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Por Redação O Sul | 28 de junho de 2015
“Júlio Mesquita e Seu Tempo”, nova obra de Jorge Caldeira, terá lançamento nesta segunda-feira (29) em Porto Alegre, na Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country (Túlio de Rose, 80 – Piso 2). O autor receberá o público entre 19h e 22h, para apresentar o resultado de um trabalho ao qual se dedicou durante 15 anos.
A obra acompanha a trajetória do homem que comandou a construção do jornal moderno, tal como conhecemos hoje. Mas não fez apenas isso. Por muitos anos, Júlio Mesquita entremeou a vida de jornalista com a de parlamentar eleito e líder partidário e participou das grandes decisões da vida republicana brasileira.
Nascido em 1862 em Campinas, filho de mãe analfabeta e de um imigrante português recém-chegado ao Brasil, aprendeu a ler por acaso e revelou um grande talento para os estudos. Aos 13 anos começou a se preparar para cursar a Faculdade de Direito, que determinaria a sua mudança para São Paulo dois anos depois. Interessado por teatro, política e pela luta abolicionista, juntou-se aos caifazes, que promoviam fugas em massa de escravos e guerra direta contra os capitães do mato que os perseguiam.
Com 26 anos começou a trabalhar como empregado em “A Província de São Paulo”, jornal com 904 assinantes. Numa carreira surpreendente, comprou a publicação dos antigos patrões e transformou “O Estado de S. Paulo” em um dos maiores jornais do país. Em 1927, ano de sua morte, o jornal tinha 48. 638 assinantes.
A nova obra de Jorge Caldeira conta em detalhes a história dessa transformação. Do começo no pequeno jornal de prelo; da passagem para o jornal de rotativas e reportagens – cujo marco inicial foi nada menos que a cobertura de Canudos feita por Euclides da Cunha; do salto para o jornal moderno, inaugurado com a Campanha Civilista de Rui Barbosa, cujo coordenador foi justamente Júlio Mesquita.
Ele tinha plena consciência de que o trabalho da política exigia segredo e operações de bastidores – pelo que se via obrigado a esconder notícias do próprio jornal. Também tinha convicção de que um jornal existe para além do governo, e sua carreira de político pagou preços altos por causa das posições do jornal.
O livro narra em detalhes o complicado bailado entre jornalismo e política, entre segredos de bastidores e revelações públicas que marcaram a vida de Júlio Mesquita e a dos políticos de seu tempo de mudanças: revoluções, traições, eleições, disputas, censura, comícios e até a prisão compuseram o cenário desse tempo político eletrizante.
No meio de tanta ação Júlio Mesquita foi encontrando o caminho que o levaria da posição de empregado de uma pequena empresa para a de dono de um grande negócio. No fim de sua vida dirigia um empreendimento cujo faturamento anual era maior que as receitas de dez dos vinte estados brasileiros da época. Seu jornal era uma indústria de grande complexidade, que misturava tecnologia de ponta, trabalho altamente especializado e uma das estruturas industriais mais sofisticadas do país.
“Júlio Mesquita e Seu Tempo” trata também dessa mudança econômica que o jornal ajudou a construir com seu crescimento. Revela um período de profundas transformações na economia, no qual a produção capitalista e o trabalho assalariado se impuseram – e o Brasil passou da condição de estagnação do Império para a de uma das economias que mais crescia no Ocidente – a partir de 1906, em ritmo maior até que o dos Estados Unidos.
Parte importante desse crescimento se devia ao Plano de Valorização do Café, apresentado em detalhes por um colaborador do jornal, Augusto Ramos, em 1903, e cuja épica implantação aparece de forma inédita no livro, graças a uma pesquisa muito cuidadosa.
Para aqueles que gostam de economia, por sinal, o livro traz um volume especial que reúne dados sobre o comportamento da produção e das finanças brasileiras no período. Com eles se pode entender melhor por que o tempo de Júlio Mesquita foi o de maior mudança e crescimento na história secular da economia brasileira.