Após ser noticiado que um livro-reportagem sobre José Mujica, ex-presidente do Uruguai, afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria lidado com “coisas imorais” em seu governo, um dos autores da obra, o jornalista uruguaio Andrés Danza, desmentiu que isso tenha sido uma “confissão” sobre o mensalão.
Para o portal “G1”, Danza disse o contexto em que isso foi dito. “Não, Lula estava falando sobre as ‘coisas imorais’ e não sobre o mensalão. O que Lula transmitiu ao Mujica foi que é difícil governar o Brasil sem conviver com chantagens e ‘coisas imorais'”.
A citação original do livro era: “Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens […] Essa era a única forma de governar o Brasil”, disse Lula, de acordo com relato de Mujica. A declaração foi dada, segundo a publicação, em uma reunião feita em Brasília nos primeiros meses de 2010.
“Lula não é um corrupto como [Fernando] Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros. Mas viveu esse episódio [do mensalão] com angústia e um pouco de culpa”, afirma o ex-presidente uruguaio no livro. O escândalo político surgiu em 2005 e o julgamento dos acusados ocorreu de 2012 a 2014.
A publicação “Una Oveja Negra al Poder” (Uma ovelha negra no poder, em tradução livre), lançada esta semana no Uruguai e sem previsão de edição no Brasil, é de autoria dos jornalistas Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, editor-geral e repórter da revista Búsqueda, uma das mais respeitadas do país.
Apesar do desmentido do autor, um trecho da reportagem publicada nesta semana na Búsqueda confirma que Lula teria justificado o mensalão com a frase: “Essa foi a única maneira de governar o Brasil”.
Em nota, o Instituto Lula, que representa o ex-presidente, endossou o desmentido de Andrés Danza sobre o assunto. E acrescentou: “Lamentamos que uma vez mais a imprensa brasileira se utilize de imprecisões para gerar interpretações equivocadas e divulgar mentiras”.
Repercussão
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirmou na sexta-feira que vai irá apresentar um requerimento de convite para que Mujica fale sobre a frase do ex-presidente Lula no livro. O pedido será apresentado na Comissão de Relações Exteriores da Casa. “A acusação é muito séria, até porque é a própria esquerda brasileira que trata Mujica como uma espécie de mártir e coloca sua índole acima de qualquer suspeita. Se ele diz que o ex-presidente Lula, não só confirmou ter conhecimento sobre o mensalão, como admitiu que era a sua única forma de governar o país, isso coloca em xeque toda a tese que o inocentou do esquema”, defende Caiado.