Ter filhos é a melhor coisa do mundo. Não existe bênção mais linda, tampouco amor maior. Mas só quem é mãe e pai sabe que, no dia em que esse serzinho chega à sua vida e você se entrega de corpo e alma, a primeira coisa que sai pela porta é a sua liberdade.
Pois eu e o Patrickão temos esse hábito de dar umas “escapadas”: pegamos a estrada ou embarcamos em um avião para uma fuga temporária dos afazeres domésticos, da gestão de boletos, do serviço infindável que é educar duas criaturinhas irresistíveis que nos pedem atenção o tempo todo (e suco, e torrada, e mamadeira, e suco de novo). E são momentos importantes, em que retomamos a cumplicidade de sermos “namorados”, em que nossas atenções se voltam para o cuidado um com o outro, e não com o contexto familiar. Voltamos a nos olhar nos olhos, a acarinhar a mão. Conseguimos dormir sem estar em sobreaviso (eu não acordo nem com tiroteio do lado de casa, mas, se os guris dão um suspiro diferente, já estou na porta avaliando a situação). São momentos importantes para que retomemos à essência da nossa relação, o que nos uniu inicialmente e que, no final das contas, é a base do que construímos. Portanto, se queremos manter o empreendimento intacto, é preciso manter a estrutura firme, certo? Recomendo, fortemente, a todos os casais com filhos pequenos que tentem, de verdade, incorporar essas saídas às suas rotinas.
Agora, vivemos uma nova experiência: quem saiu foram os meninos. Eles ficaram na praia enquanto nós voltamos para trabalhar. E a magia aconteceu: nossa liberdade roubada pelo compromisso diário de ser mãe e pai foi retomada com todo ímpeto. Acordamos tarde, saímos todas as noites como se não houvesse amanhã – ou, ao menos, com a certeza de que não seríamos acordados na madrugada. Por alguns poucos dias, esqueci até dos horários típicos da residência familiar: tomei café da manhã fora de hora, esqueci de almoçar, decidi inserir compromissos sem precisar me preocupar com o horário de buscar na creche, saí da TV direto para o bar. E sabe o mais incrível? O mundo está cheio de pessoas lá fora! Pessoas confraternizando, rindo, bebendo. Pessoas que não têm hora para chegar em casa.
E você fica ali, romanceando essa situação, imaginando a plenitude de uma rotina em que se é livre para fazer o que quiser, quando quiser, como quiser. Como se não houvesse outras limitações que não os filhos.
A sensação de liberdade que sentimos foi uma experiencia surreal. Chegar em casa e poder decidir entre ver um seriado, ler um livro, fazer palavras cruzadas (sim, eu tenho esse hábito de idosa e recomendo. Faz um bem danado pro cérebro) ou apenas tomar um banho e ir dormir… sem jantar! Sem regras. Sem ninguém pedindo coisa alguma. Que espetáculo!
Aí você se dirige até a cama e, no caminho, passa pelos quartos escuros e silenciosos. E o coração aperta com a percepção do vazio. Com a sensação de que as peças mais importantes do seu jogo estão faltando. Que tudo que você faz, no final das contas, é para ser uma pessoa melhor e criar bons seres humanos. E que a vida sem eles, enfim, não é nada.
Sentir saudade é bom. Porque saudade é o sentimento da falta que alguém provoca, com a certeza de que você a terá novamente. É um sentimento bom, porque não é a dor da perda. A saudade te faz valorizar o que se tem.
Então, concluímos, felizes, que nossos dias de vida louca foram maravilhosos e intensos. Fizeram-nos sentirmo-nos jovens novamente, como se não devêssemos nada a ninguém. Nos deu um gás. Mas tem fim. Ainda bem. Porque já estou louca para fazer planos de programação de férias, lista de supermercado e tabela de horários com os compromissos escolares e extracurriculares, além de comprar material escolar, organizar a bagunça diária e, principalmente, amassar e beijar aquelas crianças até eles dizerem “chega!” (e eles dirão, porque nenhum filho aguenta muito tempo isso).
Mas, claro, os dias de vida louca deixarão saudade. O que é bom. Aguardaremos, ansiosamente, pelo seu retorno.
Esse texto é, obviamente, dedicado às pessoas maravilhosas que compõem a nossa rede de apoio – sem as quais não conseguiríamos fazer nada disso. Por favor, não nos abandonem!