Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de dezembro de 2024
É um alento a constatação de que a quantidade de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham, categoria conhecida como “nem-nem”, caiu no ano passado para 10,3 milhões, menor número da série histórica iniciada em 2012, segundo dados divulgados pelo IBGE na última semana. Mas a boa notícia não deve encobrir a realidade: 21,2% dos jovens nessa faixa etária permanecem longe das salas de aula e do mercado de trabalho (a média nos países da OCDE foi de 13,8% em 2023).
O aquecimento do mercado de trabalho, o retorno às escolas depois do isolamento imposto pelo coronavírus e a menor participação de jovens na composição da população brasileira contribuíram para o resultado, segundo o IBGE. Um dos desafios agora é diminuir ainda mais a proporção dos “nem-nem”, que desde o início da pesquisa fica no patamar dos 20% (em 2020, na pandemia, atingiu o pico de 28,3%). O cenário de hoje está próximo do registrado entre 2012 e 2014.
A despeito da queda, nas entrelinhas da pesquisa há dados que ensejam preocupação. Nos 10% de domicílios com menor renda, praticamente metade dos jovens (49,3%) continua sem estudar nem trabalhar — quase 7,5 vezes a proporção entre os 10% mais ricos (6,6%). A diferença aumentou em relação a 2022, quando era de sete vezes.
Outro dado inquietante está ligado a gênero e cor. Dos 10,3 milhões de jovens fora da escola e do mercado de trabalho no ano passado, 6,7 milhões (65%) eram mulheres. Pretas ou pardas somavam 4,65 milhões entre os “nem-nem”, enquanto as brancas representavam 1,95 milhão. De acordo com o IBGE, a predominância feminina não é singularidade brasileira. Também é observada nos países ricos.
Coordenadores da pesquisa dizem que as mulheres tendem a ser maioria entre os “nem-nem” devido a fatores culturais e estruturais. Os afazeres domésticos e o cuidado com parentes dificultam a permanência na escola e no emprego. “Isso as impede de ir em busca de uma colocação no mercado de trabalho devido à falta de rede de apoio, além de oferta adequada de creches públicas, asilos ou centros de lazer para pessoas idosas”, diz o IBGE.
A situação não mudará enquanto não houver políticas públicas voltadas para os grupos mais vulneráveis. Os dados mostram que a parcela de jovens fora da escola ou do mercado de trabalho está concentrada entre os mais pobres e entre as mulheres. Tais grupos devem receber maior atenção e apoio. Muitas jovens engravidam cedo e não têm com quem deixar os filhos. É dever do Estado proporcionar condições para que exerçam sua cidadania. Oferecer creches seria um começo.
É improvável que jovens estejam fora da escola ou do trabalho porque queiram. Certamente têm outras obrigações. É uma situação cruel. Se não estudam nem trabalham, as oportunidades de gerar renda e melhorar de vida se estreitam. Não é bom para eles, não é bom para o país. Perde-se um contingente valioso. É louvável que o Brasil tenha reduzido os “nem-nem”, mas a situação ainda está longe de aceitável. (Opinião/O Globo)