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Mundo Jovens que não viveram os tempos áureos da Revolução Cubana lideram mobilização contra o governo

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Regime reprime e silencia a última onda de protestos em Cuba. (Foto: Reprodução)

Pelo Facebook, eles publicam apresentações artísticas em que abertamente criticam o regime, postam peças de teatro, músicas e artigos críticos à Revolução Cubana. Criam blogs independentes e manejam muito bem as redes sociais: foram os principais responsáveis por difundir vídeos dos protestos de 11 de julho, que reuniram milhares de cubanos em quase todas as províncias do país há uma semana. Mas quem são os cubanos que hoje lideram a nova oposição ao governo de Miguel Díaz-Canel?

Analistas explicam que a maioria é formada por jovens, com menos de 40 anos, que não viveram os tempos áureos da Revolução Cubana, entre as décadas de 1970 e 1980, quando a então União Soviética injetava dinheiro na ilha. Viveram a infância no chamado Período Especial, depois da queda da URSS, quando a economia estava em frangalhos.

Ao mesmo tempo, se informam por meio da mídia independente e da imprensa internacional e sentem que podem confrontar diretamente o governo sem temer represálias.

“A nova oposição está sendo formada há 30 anos. Eu diria que hoje um terço da população é opositora. Mesmo os que não estiveram nas ruas os apoiam. É por isso um grupo muito diverso, formado por aqueles que não viveram a prosperidade do sistema soviético”, explica a historiadora cubano-americana Lillian Guerra, diretora do Programa de Cuba na Universidade da Flórida.

Dentro desse grupo, coexistem diversos setores da sociedade civil: jornalistas independentes, artistas, ativistas, universitários, mas também pessoas comuns, “que são as mais vulneráveis nesse processo, porque têm menos visibilidade”, aponta o jornalista Mauricio Mendoza, do site Diario de Cuba:

“As origens desse movimento estão em anos e anos de descontentamento, mas houve um recrudescimento da crise econômica, sanitária, alimentar e social de Cuba desde janeiro, e isso acabou desembocando nos protestos”, diz ele, que fala em um “despertar intergeracional na sociedade cubana”. “Os jovens, em especial, estão descontentes porque sentem que não têm um futuro nem esperança em Cuba e, por isso, pensam em emigrar. O bom disso é que muitos decidiram se somar aos protestos”, complementa.

Cultura crítica e repressão

A historiadora cubano-america explica também que a pandemia, de certa forma, ajudou a formar essa oposição: por causa dos confinamentos, gerações que até então não discutiam política passaram a trocar experiências, já que em Cuba avós, filhos e netos vivem juntos na mesma casa.

“O confinamento tornou possível uma conversa entre gerações que não havia anteriormente. E os protestos serviram para catalisar esse consenso”, diz Guerra. “A cada dois jovens nas ruas, havia um idoso, mesmo os que apoiam o socialismo, mas estão descontentes. Eles estiveram lado a lado com os jovens, que estão pouco se lixando para o sistema político, só querem ter mais liberdade”, afirma.

Dentro do grupo heterogêneo da oposição, um se sobressaiu nas manifestações: o de artistas cubanos, simbolizados pelo Movimento San Isidro e pelo 27N. Ambos são uma resposta à entrada em vigor do Decreto 349, emitido pelo governo no início de dezembro de 2018, que regulamenta as atividades artísticas e culturais no país. Na prática, obriga artistas a registrar suas atividades, abrindo espaço à censura de seus trabalhos.

Um relatório da Human Rights Watch de junho deste ano mostra como o governo vem cometendo violações sistemáticas contra esse grupo nos últimos meses. Além de detenções esporádicas, artistas e jornalistas opositores são vigiados regularmente ou obrigados a permanecer em casa, muitas vezes por vários dias ou semanas. Muitos também têm constantemente o acesso à internet limitado.

Punição por crimes reais

Um dos líderes do Movimento San Isidro, o rapper Denis Solís, foi preso em dezembro de 2020 e submetido a um processo judicial sob a acusação de desacato, que culminou na sentença de oito meses de prisão. Ele foi libertado há uma semana, horas após as manifestações, depois de cumprir a pena. Mas muitos outros permanecem detidos após as manifestações. A coronel Moraima Bravet Garófalo, chefe da Direção-Geral de Investigação Criminal do Ministério do Interior, confirmou que os detidos nos protestos “têm basicamente entre 25 e 37 anos”.

Na semana passada, o governo anunciou que os presos poderão enfrentar julgamentos sumários em 96 horas. Segundo o porta-voz Humberto López, eles serão acusados de crimes como desordem pública, instigação à prática do crime, roubo, resistência, agressão, injúrias, desacato, danos materiais e propagação de epidemias.

“Diferentemente de grupos opositores anteriores, mais velhos ou já desacreditados em Cuba pelos vínculos com os Estados Unidos, a nova oposição representa uma ameaça real ao Estado”, retrata Guerra. “Por isso, a repressão do governo é outra: são imputados crimes reais contra eles.”

Jorge Duany, diretor do Instituto de Pesquisas Cubanas da Universidade da Flórida, lembra que Díaz-Canel não tem o apelo popular ou o carisma de Fidel, “o que é parte do problema”. Mesmo assim, ele não acha que seja o “começo do fim”, como aposta Mendoza e pregam os líderes no exílio em Miami ou os protagonistas dos protestos.

“Ainda não está claro se isso se transformará em algo mais organizado. De qualquer forma, está claro que o governo foi surpreendido pela intensidade das manifestações, e será necessário sentar à mesa para dialogar com a oposição. Mas não vejo essa opção como mais provável”, conclui.

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