Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2015
As novas drogas da vez entre universitários e jovens profissionais passam longe de shows e baladas. As chamadas “smart drugs” são consumidas em universidades, cursinhos e escritórios. Para estudar por várias horas, pessoas sem problemas psiquiátricos ou neurológicos estão tomando pílulas para transtorno de deficit de atenção, narcolepsia e até mal de Alzheimer.
O médico Lucas (nome fictício), 28 anos, diz que começou a tomar ritalina, remédio para transtorno de déficit de atenção, por causa das longas horas de trabalho e as obrigações de estudo para a residência em ortopedia.
Ele diz que só assim conseguia se manter concentrado e acordado. “Deixa você mais focado. Para mim, fez efeito, mas eu comecei a sofrer com muita ansiedade e, no fim, passei a ter crises de pânico”, relata.
Gabriela, 22, diz que conseguiu anfetaminas com uma colega em um cursinho para o concurso de admissão à carreira diplomática. Ela diz ainda que, tirando a perda de apetite, não sentiu muita diferença.
Vantagem “desleal”.
Par alguns especialistas, as “drogas da inteligência” estão para o mundo acadêmico como os esteroides anabolizantes estão para o esportivo: embora possa haver algum ganho de resultado, há risco de vários efeitos colaterais. Existe também um dilema ético: quem usa essas substâncias antes de uma prova, como um concurso público, teria vantagem sobre seus concorrentes. “Para mim, isso é doping”, diz o psiquiatra Mario Louzã. Gilda Paolliello, professora de psiquiatria, pensa igual: “É concorrência desleal”. Ela diz que, em seu consultório, já consegue perceber uma grande quantidade de pré-universitários, “concurseiros” e executivos que têm abusado das substâncias.
Acredita-se que a moda tenha começado entre estudantes americanos e profissionais de Wall Street. Uma pesquisa divulgada em 2014 indica que quase um em cada cinco estudantes da “Ivy League” – grupo de universidades de elite que inclui Harvard – usaram algum tipo de “smart drug” durante o período letivo. Em um artigo no Journal of Medical Ethics, Vince Cakic, da Universidade de Sidney (Austrália), afirma que, no futuro, pode ser até que estudantes tenham de se submeter a exames de urina. A eficácia das “smart drugs” é polêmica. Os estudos, até agora, não têm resultados conclusivos: alguns indicam certos ganhos, outros mostram que não há vantagens para pessoas saudáveis. Um dos exemplos é o modafinil, comercializado no Brasil como Stavigile. Seu uso registrado na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é para tratamento de narcolepsia, mas ela é muito popular entre os estudantes.
Enquanto um trabalho de 2012 indicou que a modafinil conseguiu melhorar a performance cognitiva de médicos que estavam sem dormir, um trabalho de 2014 mostrou um resultado contrário: estudantes ficaram mais lentos para tomar decisões. Especialistas alertam principalmente para a falta de estudos que indiquem possíveis danos do uso em longo prazo dessas drogas por quem não tem indicação médica.
Na internet, é fácil ter acesso a blogs e fóruns em que estudantes discutem o tema e ensinam estratégias de uso. Embora sejam de uso controlado, os estudantes têm acesso relativamente fácil às pílulas no mercado paralelo, sobretudo em redes sociais.
Efeitos negativos.
“Os blogs vendem um pouco a ilusão de que você vai ficar muito inteligente e aprender tudo. Mesmo para uma pessoa sadia o aumento de concentração não é assim tão grande. Se a sua concentração já está em 100%, não vai para 200%”, explica Louzã.
Profissionais alertam para efeitos negativos do uso prolongado. “Esses psicoestimulantes podem levar tanto à dependência física quanto à psíquica. Ou seja, a pessoa só consegue se sentir segura se usar”, alerta Gilda. “É bem comum ter insônia e ansiedade. Além disso, o uso prolongado pode levar a problemas cardíacos.” (Folhapress)