Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de junho de 2015
Em depoimento à Polícia Federal, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) confirmou que o então diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa pediu apoio do PMDB para obter um cargo na estatal durante um encontro na casa do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
A reunião havia sido relatada por Costa em sua delação na Operação Lava-Jato como um dos indícios do envolvimento do PMDB no esquema de desvios da Petrobras.
Embora tenha confirmado a reunião, Jucá negou que o objetivo fosse discutir a partilha de recursos da estatal.
Segundo o senador, Costa veio acompanhado pelo deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), entre o final de 2009 e início de 2010, logo após o almoço em que estavam Jucá, Renan – então líder do PMDB no Senado– e o deputado Henrique Alves (PMDB-RN).
Jucá disse que Gomes “buscava o apoio do PMDB a fim de levar” Costa para a diretoria de Exploração da estatal.
Costa, porém, disse que seu pedido foi para continuar na diretoria de Abastecimento –doente, ele estava afastado do cargo há várias semanas–, e que a contrapartida para sua permanência era “apoio ao partido” com recursos das empreiteiras.
Em nota divulgada em março, Renan disse que suas relações com o poder público “nunca ultrapassaram os limites institucionais”.
Segundo Jucá, Gomes “disse aos presentes que já tinha o apoio do PP e necessitava do apoio do PMDB a fim de promover a troca de diretorias”. Os líderes do PMDB teriam então dito a Gomes que a diretoria pleiteada “era pertencente à cota política do PT e que, portanto, era difícil a efetivação da troca”.
O depoimento de Jucá foi prestado à PF em 20 de maio, em inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) sob relatoria do ministro Teori Zavascki. O senador negou irregularidades nas suas conversas com Costa.
Segundo análise da PF nos registros de entrada e saída, Gomes esteve 46 vezes na sede da Petrobras, no Rio, entre 2007 e 2011 –em 43 delas, para encontrar Costa.
Além de Jucá, a PF ouviu mais 15 parlamentares e ex-parlamentares do PP e do PMDB no mesmo inquérito no STF. A PF pediu ao Supremo mais 60 dias para investigar o envolvimento de políticos no escândalo. O pedido ainda será avaliado.
Planalto
Também ouvido pela PF, o senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA) negou ter recebido ou pedido dinheiro do esquema para a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB-MA).
Lobão afirmou que “tradicionalmente os diretores da Petrobras são indicados pelo Planalto e oficializados pelo Conselho de Administração” da estatal, “que nomeia de fato”.
O ex-ministro confirmou que manteve “vários encontros” com Paulo Roberto Costa a partir de 2008 e falou com ele ao telefone diversas vezes, mas sempre tratando de “assuntos institucionais”, incluindo conversa em “um jantar de comemoração do aniversário” do ex-diretor, no Rio, “onde estava presente mais de uma centena de pessoas”.
Nos depoimentos que prestaram à PF, todos os políticos do PP atribuíram ao comando do partido o trabalho de captação e distribuição de recursos para eleições, procurando eximir-se de qualquer pedido às empreiteiras doadoras de campanha. (Márcio Falcão e Rubens Valente/Folhapress)