Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 17 de novembro de 2017
O juiz à frente da Lava-Jato no Rio, Marcelo Bretas, afirma que a corrupção no Estado se assemelha a uma “metástase”. E, um ano depois da prisão do ex-governador Sérgio Cabral, diz que a Justiça se modernizou para impedir o “triunfo das nulidades”. As declarações foram feitas ao jornal O Globo, concedida antes da operação Cadeia Velha.
1) Há um ano, o senhor prendeu o Sérgio Cabral, que foi o homem mais poderoso do estado. Que balanço o senhor faz desse período?
Para mim, não existe homem mais importante. Não tenho essa preocupação. Minha preocupação é se é crime e se aquele ato investigado está na minha competência. Estamos aprendendo a fazer uma nova Justiça, que é rápida, se dedica e vai a fundo na investigação, doa a quem doer. A preocupação é ser rápido e sempre respeitar os direitos (dos réus). Temos pouca ou nenhuma reclamação de violações de direito.
2) Ficou surpreso com o tamanho do esquema de corrupção no Rio?
Posso falar sobre o processo da Operação Calicute, que já foi julgado. O que me assustou, naquele caso, foi a extensão e a capilaridade. Parece que tem mais gente envolvida do que não envolvida. É uma metástase. A cada hora surgia um personagem novo.
3) Não demorou muito para o esquema de corrupção ser descoberto?
A percepção é de que os órgãos de controle não estavam exercendo suas funções. Já disse isso (na decisão sobre a prisão de Cabral) e repito. Tanto é assim, que depois foi iniciada uma investigação, ainda em curso no Superior Tribunal de Justiça, sobre integrantes do Tribunal de Contas do Estado.
4) Como avalia o comportamento de Cabral ao longo das audiências? Ele disse que o senhor estava buscando promoção pessoal às custas dele…
Não posso questionar, porque o advogado tem total liberdade de orientá-lo. Já tivemos momentos mais tensos e menos tensos. Não mudo de acordo com o réu. Tenho a noção de que o réu está passando por um drama pessoal e procuro respeitar.
5) Há notícias de que ele tem regalias na prisão…
Muito é dito, mas pouco é trazido à Justiça. Quando foi trazido, eu decidi (quando transferiu Cabral a Curitiba). Tenho a responsabilidade de decidir, mas, infelizmente, as questões não têm sido trazidas para serem avaliadas. Isso é uma atribuição do Ministério Público Federal e Estadual.
6) O senhor aceitou o pedido de desculpas do ex-governador?
Entendi que as desculpas aconteceram pelo ambiente gerado. Se há, ou se houver, investigações por movimentos irregulares (elaboração de dossiês contra o juiz e procuradores), ela seguirá independentemente de qualquer pedido de desculpas.
7) O senhor realmente viu uma ameaça nas declarações de Cabral?
Mais importante do que ter recebido como ameaça, foi a informação de que ele (Cabral) estava recebendo dados (na cadeia). Além de falar que minha família trabalha com bijuterias, o que é público, ele disse que era a maior do estado, o que não é público.
8) Há uma investigação sobre a montagem de um dossiê, pelo Cabral, com informações do senhor e da sua família.
Não quero falar sobre isso. Se é que há, não está e nem estará sob minha responsabilidade.
9) Está preocupado com a segurança?
Eu cuido, porque tenho que ser responsável, mas não temo e não vivo com medo. Tenho recebido todo o apoio do Tribunal (Regional Federal da 2ª Região) e do Conselho da Justiça Federal. Conversei com a ministra Laurita Vaz (presidente do STJ) e com o corregedor do Conselho da Justiça Federal, ministro Raul Araújo. Não tenho que viver com medo. Tenho que fazer meu trabalho, mas deixei de recusar medidas de segurança.
10) O senhor acredita que um empresário dá dinheiro a um gestor público sem que haja uma combinação clara de contrapartida? Cabral e Sérgio Côrtes reconhecem que receberam dinheiro, mas negam relação com vantagens em contratos.
Posso falar da Calicute, o que decidi lá. Naquela ocasião, não concordei com essa tese (dos réus; Côrtes não era réu naquela ação). Consignei, na sentença da Calicute, que se tratava de um simples jogo de palavras. Ali, eu não acreditei, disse que o argumento era fantasioso, mas não posso falar sobre casos em andamento.
11) Para quando vê o fim da Lava-Jato?
Não vejo fim para hoje. A Lava-Jato é mais do que um conjunto de operações. É uma nova cultura de combate à corrupção. A Lava-Jato é eterna, não eu, não o (Sergio) Moro.
12) A Lava-Jato no Rio poderia estar andando mais rápido?
Estamos há meses aguardando providências a cargo de instâncias superiores. Então, nossa velocidade aqui é metade do que poderia estar sendo.