Quinta-feira, 02 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2024
A inadimplência atingiu o recorde de 7 milhões de empresas no Brasil neste ano, quase um terço das companhias existentes, de acordo com dados do Serasa Experian. Com a elevação da taxa Selic e alta do dólar, a expectativa é que as empresas tenham ainda mais dificuldades em 2025. Só com o aumento da Selic em setembro, cerca de 100 mil novas empresas se tornaram inadimplentes em outubro, quebrando uma estabilidade que já durava cinco meses.
“A taxa de juros é uma variável muito importante para a inadimplência das empresas, assim como a inflação é importante para a inadimplência do consumidor. Nesse cenário de inflação e juros subindo, as duas inadimplências vão ficar pressionadas. Então, nos próximos dois trimestres, não esperamos nenhum tipo de arrefecimento nessa tendência”, diz Luiz Rabi, economista-chefe do Serasa.
Junta-se a isso a escalada de 27,6% do dólar neste ano, que afeta sobretudo as grandes empresas com dívida em moeda estrangeira. Um levantamento feito pela Elos Ayta Consultoria, com 101 empresas de capital aberto com endividamento em dólar, mostra que quase 40% da dívida total estava em moeda estrangeira até setembro deste ano. Isso significa R$ 353 bilhões. Desse total, R$ 68,9 bilhões são de curto prazo e R$ 284 bilhões, de longo prazo.
“Porém, no quarto trimestre, o dólar subiu para mais de R$ 6. Assim, mantido o mesmo estoque, estima-se que a dívida total em moeda estrangeira dessas 102 empresas tenha passado de R$ 353 bilhões para R$ 392 bilhões”, afirma Einar Rivero, responsável pelo levantamento. Segundo ele, a valorização do dólar no último trimestre irá impactar significativamente o resultado das empresas. “A despesa extra gerada pela variação cambial tem o potencial de corroer uma parte importante dos lucros, o que, na ausência de alguma estratégia de cobertura cambial, pode afetar negativamente não apenas o balanço das companhias, mas também sua capacidade de investimento e expansão.”
Na visão de Rabi, o cenário macroeconômico tende a melhorar apenas se o governo federal aprovar um corte de gastos efetivo e convencer o mercado de que seu regime fiscal mudou, priorizando o equilíbrio das contas públicas. De acordo com o mais recente relatório Focus, do Banco Central, a Selic, hoje em 12,25%, deve superar o patamar de 15% ao ano em 2025. Já a inflação deste ano deve estourar o teto da meta, de 4,5%, e terminar o ano acima 4,7%.
Economistas avaliam que, mais uma vez, as empresas foram pegas no contrapé. A alta da taxa básica de juros, por exemplo, não estava no radar delas. No início do ano, por exemplo, a expectativa era de que a Selic iria encerrar o ano em 9%, um cenário bem diferente do atual. Já o dólar estava em R$ 4,85.
Desde setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) passou a elevar a Selic. Ela saiu de 10,75% ao ano para 12,25%. Na reunião de dezembro, a alta foi de 1 ponto porcentual, e o BC já indicou que deve promover mais dois aumentos de 1 ponto.
No cenário atual, grandes bancos já colocam no radar a possibilidade de a taxa básica de juros aumentar ainda mais em relação ao que já foi indicado pelo Copom. O Itaú projeta que a Selic deve encerrar o próximo ano em 15%. O Bradesco ainda trabalha para fechar o seu cenário, mas projeta que ela deve chegar ao patamar de 14,5% e 15,25%.
Para o economista e filósofo Eduardo Giannetti, o aumento de juros que o País enfrenta prejudica o setor real da economia. “As empresas que estão endividadas hoje e pagam juros estão tendo perdas, às vezes, por resultado de um enorme esforço de produção e rentabilidade apenas por conta de uma reunião do Copom. Muitas delas vão ter dificuldade para honrar compromissos financeiros.”
Perfil
Segundo a Serasa, hoje as micro e pequenas empresas representam a grande maioria de inadimplentes do País, pois elas têm menor resiliência financeira para lidar com ventos macroeconômicos desfavoráveis. Mas as médias e grandes também têm sofrido com o elevado endividamento.
Ricardo Teixeira, professor do MBA de gestão financeira da FGV, afirma que um impacto secundário do aumento do endividamento das empresas é que elas podem precisar repassar o custo do financiamento das dívidas nos preços para o consumidor, gerando impacto também nas vendas. No caso das grandes empresas, as alternativas para contornar os problemas do aumento dos juros vão além do crédito bancário.