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Política “Justiça às vezes é lenta, burra, injusta, mas ela chega”, diz juíza após condenar réus por morte de Marielle e Anderson Gomes

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A juíza Lúcia Glioche chamou a atenção para os anos de dor que os familiares das vítimas passam com a ausência dos entes.

Foto: Felipe Cavalcanti/TJRJ
A juíza Lúcia Glioche chamou a atenção para os anos de dor que os familiares das vítimas passam com a ausência dos entes. (Foto: Felipe Cavalcanti/TJRJ)

Ao ler a sentença da condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, a juíza Lúcia Glioche chamou a atenção para os anos de dor que os familiares da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes passaram e disse que a decisão dos jurados não acaba com o sofrimento. A dupla foi condenada na noite dessa quinta-feira (31).

“Talvez Justiça fosse que o hoje o dia jamais tivesse ocorrido, talvez Justiça fosse Anderson e Marielle vivos”, disse.

A magistrada lembrou que durante muito tempo os condenados negaram participação no crime, apesar de provas já terem sido coletadas. Mas reafirmou que ainda assim a Justiça chegou.

“A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que como os acusados acham que jamais serão atingidos pela Justiça”, acrescentou.
Exatos 6 anos, 7 meses e 17 dias após o crime, o 4º Tribunal do Júri do Rio condenou nesta quarta-feira (30) os assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O crime chocou o país e – até hoje – gera repercussão em todo o mundo.

O ex-policial militar Ronnie Lessa, o autor dos disparos naquela noite de 14 de março de 2018, recebeu a pena de 78 anos e 9 meses de prisão. O também ex-PM Élcio Queiroz, que dirigiu o Cobalt usado no atentado, foi condenado a 59 anos e 8 meses de prisão.

Choro

As famílias das vítimas desabaram em lágrimas após a leitura da sentença dos réus. Pai, mãe, irmã e filha de Anielle estavam na primeira fila, ao lado de Marcelo Freixo e Mônica Benício, além da esposa do motorista, a Ágatha Arnaus. A família, muito emocionada, se abraçava. Ágatha era consolada por uma mulher, enquanto Mônica Benício tentava, sem sucesso, conter as lágrimas que rolavam.

Na saída do tribunal, os familiares falaram com a imprensa.

“A nossa coragem trouxe a gente até aqui. É um dia muito difícil. Eu tenho certeza que nenhum de nós queríamos estar aqui. A Agatha queria o Anderson aqui, eu queria minha mãe aqui. Mas com certeza o dia de hoje entra para a história e para a democracia desse país. A gente tem muitos passos pela frente ainda nesse caso como um todo, mas hoje com certeza é o primeiro passo por eles e a gente vai seguir lutando”, destaca a filha Luyara Franco.

“A gente contava com esse dia. Essa condenação precisava ser feita. Vamos continuar lutando, a cada dia é uma vitória”, desabafa Marinete.

Agatha diz que irá para casa levar orgulho para o filho.

“Hoje é um dia que eu vou abraçar o Arthur mais orgulhosa. É um orgulho a gente não ter desistido. Eu tô orgulhosa da gente também, foi aos trancos e barrancos”, conta.

Luyara comentou como foi difícil acompanhar o depoimento dos réus. Ela passou mal no dia anterior.

“Na fala deles tem uma frieza, como se fosse muito tranquilo e fácil acabar com a vida de uma pessoa. É muito difícil a gente não ver nenhum arrependimento, mas tenho orgulho da gente não ter desistido, como disse a Ágatha”, continua Luyara.

O pai de Marielle, emocionado, disse que não teria paz sem a condenação, mas que a luta não acabou.

“A nossa luta começa a partir do dia 15 de março, com a pergunta que ecoou até alguns anos atrás: ‘Quem matou Marielle e Anderson’? Essa foi a primeira pergunta. E nós, hoje, tivemos a resposta com a condenação dos réus confessos o que, para nós, era de suma importância porque se a justiça não tivesse condenado esses dois assassinos cruéis, que assassinaram covardemente a nossa filha e o Anderson, nós não teríamos um minuto de sossego”, afirma Antônio.

“Mas isso não acaba aqui. Não acaba aqui porque tem mandantes. E agora a pergunta que nós vamos fazer é: ‘Quando serão condenados os mandantes?’ Porque aquele choro que eles exibem nas suas oitivas, pra mim, não é um choro sincero. O choro sincero foi o nosso, porque nós perdemos a nossa filha, a Agatha perdeu o Anderson e a Mônica perdeu a Marielle”, emenda o pai.

Toinho, como é carinhosamente chamado, disse que não acredita no arrependimento dos réus.

“Esse choro nosso foi um choro sincero. Esse choro eu acredito, naqueles eu não acredito, não vou acreditar nunca. ‘Ah, eu quero pedir perdão porque estou arrependido’. O perdão, nós podemos até dar o perdão pra eles, mas eles não estão arrependidos. A Marielle não vai voltar, o Anderson não vai voltar, esse vazio nós vamos ter eternamente na nossa vida enquanto nós tivermos”, conclui.

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