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Por Redação O Sul | 30 de maio de 2018
Em uma sala similar a um bunker no subúrbio de São Paulo, o coronel aposentado da polícia Antônio Marin e uma dúzia de funcionários rastreiam a localização de centenas de caminhões em monitores.
Durante seus 34 anos na Polícia Militar do Estado de São Paulo, Marin levou um tiro na coxa e passou dois anos protegendo o governador. Mas seu emprego mais recente em uma empresa privada de transportes pode ser seu maior desafio até agora: proteger roupas, cosméticos e outras mercadorias em meio uma onda de crimes que está reestruturando a indústria de e-commerce em desenvolvimento no Brasil.
No ano passado, 22 mil roubos de cargas foram relatados somente em dois Estados – São Paulo e Rio de Janeiro. Isto representa cerca de 60 roubos por dia, um número recorde que quase dobrou desde 2012. Autoridades culpam grupos de criminosos organizados por ataques a cargas. As perdas são estimadas em centenas de milhões de dólares por ano.
“Você está sempre correndo risco”, disse Marin, chefe de segurança da Braspress, uma das maiores companhias de logística e transporte do País. “Começa no momento em que você coloca a carga no caminhão e viaja pelo Brasil.”
Todos os tipos de negócios são alvos, mas autoridades dizem que bandidos preferem bens de consumo que são fáceis de vender. Isto se mostra um desafio particular para o comércio eletrônico brasileiro, em rápido crescimento. Custos de segurança estão apertando margens de lucro e forçando varejistas e companhias de logística a ajustarem suas estratégias para obter sucesso na maior economia da América Latina.
A varejista de produtos eletrônicos Via Varejo, por exemplo, desenvolveu um sistema de monitoramento por satélite para manter controle de seus caminhões. A companhia também envia seguranças armados para acompanhar muitos envios, disse o chefe de logística, Marcelo Lopes, à Reuters.
“Nós não poupamos em segurança”, disse. “Nós investimos pesado para proteger bens e proteger pessoas.”
Uma importante player no e-commerce, a companhia também apostou pesado na operação “clique-e-retire”, que permite que clientes retirem seus pedidos feitos online em lojas físicas da Via Varejo. O programa é popular entre consumidores da classe trabalhadora que gostam da segurança, e isto significa menos caminhões de entrega passando por bairros perigosos, disse Lopes.
A varejista brasileira Magazine Luiza implementou um modelo parecido para impulsionar suas vendas online. Ainda assim, a empresa está evitando expansão no Estado do Rio, em parte por temores de roubo de cargas, disse a presidente Luiza Trajano no ano passado.
Infraestrutura ruim, impostos pesados e burocracias complicadas há tempos tornam o envio de carga no País caro. O aumento de roubo de cargas só acrescentou ao fardo.
A situação problemática será um teste para a Amazon.com. A maior varejista online do mundo está se preparando para uma grande expansão no Brasil, após seis anos de vendas principalmente de e-books e filmes digitais no País.
A Amazon se negou a discutir sua estratégia. Mas veteranos do varejo disseram que é melhor a companhia de Seattle se preparar. .
O Brasil “é uma realidade muito diferente das empresas que prosperam lá fora”, disse o presidente-executivo da Magazine Luiza, Frederico Trajano, em evento público em abril.