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Lambanças e mancadas

Ministros do Palácio do Planalto que tiveram resultado negativo decidiram trabalhar normalmente. (Foto: Agência Brasil)

Espera-se que não persistam até o fim lambanças como estas do comecinho do governo Bolsonaro. Um certo atropelo é inevitável – são muitas pessoas envolvidas, palpites vindos de todos os lados. Começou mal, mas não se avalia um governo pelos primeiros dez dias.

Bem que poderia ficar de fora o vexame da nomeação de um executivo da APEX (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) que não fala inglês. Além de monoglota – Alex Carreiro é o nome do sujeito – parece não saber onde fica Davos. Menos mal que tenham percebido a tempo e só se perdeu um pouco de tinta no Diário Oficial.

O Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, saiu meio chamuscado da trapalhada: demitiu Carreiro mas ele não acatou a ordem. Bolsonaro teve de entrar em campo e botar ordem na casa. Alex não se saiu tão mal: recebeu uma bonificação, um cargo na bancada do PSL do Senado, onde basta saber um pouco do idioma português.

Certas nomeações para altos cargos deram o que falar. Na Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro em pessoa, emplacou um amigo de longo tempo, Carlos Victor Guerra Nagem. O cargo: gerente executivo de Inteligência e Segurança Corporativa. O salário: R$ 50 mil por mês.

No Banco do Brasil, o filho de Hamilton Mourão (o vice-presidente da República), Antônio Hamilton Rossel Mourão, foi nomeado para um alto cargo de assessoria, salário de R$ 36 mil reais.

Nomeações assim não passam incólumes. A oposição, a mídia, botaram a boca no trombone. Mas atenção: tanto Nagem quanto Rossel Mourão são funcionários de carreira. Não é aparelhamento. Não se trata de um “companheiro”, cabo eleitoral, de fora para dentro, como aconteceu aos milhares nos últimos anos. Dois pecadilhos.

O ministro Onyx Lorenzoni não precisava demitir todo mundo da Casa Civil, para, segundo ele, “despetizar”. O governo ganharia tempo e respeito se não quisesse fazer de cada ato comum da administração um palanquinho político. Há uma certa infantilidade nisso, mas parece que aí reside um DNA do novo governo.

No caso, supõe-se que uma parte dos demitidos era concursada. A imprensa não se dignou a nos informar melhor. O certo é que faltou gente para digitar ofícios e portarias, colher assinaturas, enviar ao Diário Oficial, essas coisas.

Na Justiça, enquanto o Ceará arde em fogo, os Gomes, Ciro e Cid, só falam de temas nacionais – são aliados do governo local do PT. Já Sérgio Moro, o ministro, faz o de sempre, envia tropas para conter a convulsão. Em Brasília, ele parece mais focado em aumentar as penas para os crimes de corrupção. Muito bem. Todos nós queremos o fim da corrupção. Mas não é mais urgente restabelecer a ordem no Ceará, propor as medidas que acabem com a baderna e o atrevimento da bandidagem, comandada de dentro dos presídios brasileiros?

Nem tudo porém andou mal para o novo governo. O PT atravessou a rua para pisar em casca de banana e foi à Venezuela, na pessoa da presidente Gleisi Hoffmann, na posse do novo mandato do tiranete Nicolás Maduro: munição para Bolsonaro, margem para o governo dar suas próprias mancadas.

titoguarniere@terra.com.br

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