Saíram os primeiros dados do Censo 2020 nos Estados Unidos. Um dos resultados mais relevantes é que a população de origem hispânica ou latina foi responsável por metade do crescimento demográfico norte-americano nos últimos dez anos. Somam 62,1 milhões e já representam 18,7% da população. Houve um aumento de 16,3% nesse segmento populacional.
Desde o Censo 2010, quase todo o crescimento demográfico americano ocorreu em comunidades não brancas. Pela primeira vez em 231 anos de recenseamento, a população branca diminuiu. Continua a ser maioria (57,8%), mas é um contingente menor (8,6%) que o apurado no Censo de 2010. No total, foram 204,3 milhões de pessoas que no ano passado se identificavam como brancas.
A comunidade asiática cresceu significativamente (35%). A proporção de negros ou afro-americanos aumentou, mas bem menos (5,6%).
Uma década atrás, 25% da população americana não branca tinha mais de 18 anos. Agora, são 36%. Em 2010, jovens não brancos — com menos de 18 anos — compunham 35% dos habitantes. Agora representam quase metade (47%).
O novo mapa demográfico dos EUA vai impor uma dança das cadeiras no Congresso. A Câmara, atualmente, está sob controle do Partido Democrata por uma pequena diferença, 220 votos contra 212 do Partido Republicano. Houve um fortalecimento das grandes cidades e subúrbios, e, em contrapartida, ocorreu um declínio populacional e mais da metade (52%) das áreas rurais. Em tese, isso pode favorecer os democratas na eleição legislativa de novembro do próximo ano.
Censo brasileiro
No Brasil, o censo está atrasado. Não se sabe o que mudou no mapa populacional desde 2010. O governo não deu o dinheiro necessário ao IBGE para atualizar o censo. Estavam previstos R$ 2 bilhões, mas os recursos foram deslocados para o financiamento de emendas parlamentares num orçamento paralelo, controlado pelos líderes do Centrão.
Essa conta orçamentária tem total estimado em R$ 19 bilhões. O Supremo Tribunal Federal mandou o governo realizar o censo decenal até meados do próximo ano. Manobras políticas mantêm há 28 anos uma representação parlamentar congelada, totalmente desequilibrada em relação à população.
O plenário da Câmara é composto por 513 deputados, mas na distribuição das bancadas por estados retrata o mapa populacional brasileiro de 1993, sem considerar as mudanças demográficas em quase três décadas.
O Supremo vai julgar uma ação do Pará que muda o tamanho das bancadas de treze Estados na Câmara, com reflexos nas respectivas assembleias legislativas. Pode valer para as eleições do próximo ano.
Biscoitos
O governo aposta numa decisão do juiz Marco Aurelio Mello, do Supremo Tribunal Federal, a favor da realização do Censo a partir de agosto do próximo ano. Mandou ao gabinete de Mello uma avaliação do próprio IBGE: “Não há riscos neste cenário, além da postergação da divulgação de resultados apenas no final de 2022 / início de 2023.”
O Censo estava previsto para este ano, com reserva de R$ 2 bilhões no orçamento. Numa esdrúxula engenharia política entre o Palácio do Planalto e o Congresso, o dinheiro foi cortado para apenas R$ 71 milhões. Esse valor caiu ainda mais, para R$ 53 milhões, quando Jair Bolsonaro sancionou a lei orçamentária do ano.
No fim das contas produziu-se um curioso retrato do Brasil de Jair Bolsonaro, do Centrão, dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco: o volume de dinheiro (R$ 53 milhões) reservado para o Censo no atual orçamento federal equivale àquilo que o governo gastou no ano passado nas compras de biscoitos para o lanche nos ministérios (R$ 50 milhões).