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Colunistas Lembranças que ficaram (10): a Legalidade – agosto de 1961

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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Sempre que entro no Palácio Piratini, olho aquele suntuoso saguão, aquele brasão, aquelas lindas pinturas, sua escadaria e lembro que em agosto de 1961 passei 11 dias dentro daquelas paredes, trabalhando no porão, para o chefe da assessoria de imprensa o conhecido Carlos Contursi que em plena ‘Campanha da Legalidade’ me ‘credenciou’ a serviço da imprensa do Palácio. Ganhei um .38 que ostentava na cintura e toda correspondência (cartas e telegramas) que chegava ao Palácio era para selecionar, resumir e passar para o Contursi, especialmente o apoio dos Prefeitos do RS e de entidades Rio Grande, Brasil e até do Exterior. Estávamos em plena pré-revolução lutando pela posse do Vice-Presidente João Goulart em virtude da renúncia do então Presidente da República Jânio Quadros. Os poderes em Brasília, especialmente o Congresso e o Ministro da Guerra, não queriam que o Vice-Presidente João Belchior Marques Goulart (o Jango) assumisse em virtude das inclinações dele e do Brizola pretendendo fazerem “Reformas de Base” com acentuado apoio socialista. Nunca vi, nem o Jango nem o Brizola, como comunistas. Ambos Estanceiros com enormes extensões de campo povoado de gado, não tinham nada de comunismo. Na minha opinião, eram sim grandes caudilhos, remanescentes de uma época já extinta e superada. Eu passava o dia lá dentro, fazia as refeições na ala residencial do Palácio e só ia pra casa pra dormir e cedinho voltava. Andei por tudo, lá dentro. Conheci um monte de políticos daqui, de outros Estados e de Brasília.

Foi numa dessas que conheci, apertei a mão e falei com ele, o famoso deputado federal Tenório Cavalcanti portando debaixo de sua indefectível capa preta a famosa ‘lurdinha’, uma metralhadora portátil INA calibre 45, que andava sempre com ela ‘na maior cara de pau’.

Era Comandante do então III Exército o General Machado Lopes que ninguém sabia se ele ia apoiar ou matar o Brizola. No terceiro dia, 3 jatos de caça da Força Aérea baseados em Canoas, os bonitos Gloster Meteor, passaram num rasante em cima do palácio e (meu caro) todo mundo se jogou no chão, pois corria o boato de que o Palácio seria bombardeado. O povaréu que ocupava a frente do Palácio e a Praça da Matriz se jogou no chão, correram ladeira abaixo e deu o maior rebuliço. Teve gente que se machucou.

Observei os ninhos de metralhadoras em cima do teto do Palácio, nos seus arredores e os soldados lá dentro e ri sozinho. 90% do armamento da Brigada Militar, eram armas da 1ª guerra mundial. Atiravam sim, mas sem muita convicção. Quando veio a notícia que o Gen. Machado Lopes apoiou a Legalidade, tudo serenou e o Jango chegou (gostava dele) era um cara do bem, da paz e só partiu para o plebiscito Parlamentarismo versus Presidencialismo, porque o Brizola insistiu, assim como andou comparecendo e participando no Rio de comícios subversivos por insistência do lado comunista/sindicalista do PTB e do seu cunhado Brizola. Eu tenho convicção que ele só queria era governar e viver em paz. O João Goulart estava retornando de uma viagem à China e veio vindo chegando ao Uruguai da onde mais próximo do RS, de sua Fazenda e do seu apoio político, foi negociado uma fórmula conciliadora. O Jango assumiu então sob um regime Parlamentarista, não mais Presidencialista. Terminado o reboliço, devolvi o revolver e voltei a vida normal no meu trabalho, registrando para minha história o episódio que vivi.

Por um curto período o Brasil, sob regime Parlamentarista, teve 1ºs Ministros que assumiram sob uma comoção política muito grande, com gente querendo que permanecesse o novo regime e os seguidores do Brizola e o PTB de então, fazendo a maior força (e conseguiram) para que fosse feito uma consulta popular para votarem e decidirem. Isso foi em 1963. Ganhou o Presidencialismo e nesse curto período tivemos 3 Primeiros Ministros: Tancredo Neves por 11 meses, Francisco Brochado da Rocha por 2 meses e Hermes Lima por 4 meses. Mas a ebulição política não parou e acabou no movimento de 31 de março de 64. E a história rolou e acabou com uma Nova Constituição em 1988 que ficou híbrida. Modelo Parlamentarista dentro de um Regime Presidencialista, como é a tal “Medida Provisória” uma ferramenta exclusiva do Parlamentarismo sendo amplamente usada, aqui no Brasil, dentro do Presidencialismo.

Só fui voltar ao Palácio Piratini em 1971 quando no Governo do Engº Euclides Triches, o Chefe da Casa Civil, Dep. Victor Faccioni me convidou para ser seu Chefe de Gabinete. Declinei do honroso convite e, oficialmente, nunca mais fui lá. Contudo não oficialmente seguido andava por lá. Agora (85 anos) não mais.

No próximo artigo, quarta-feira que vem, em Lembranças que ficaram Nº 11 contarei a história de …”Até o trem Minuano”.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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