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Colunistas Lembranças que ficaram (11) – Até o trem minuano

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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Desde muito cedo (6 para 7 anos) morando no Noroeste do RS próximo a fronteira com a Argentina, eu viajava todas as férias – não para o exterior, nem para Rio ou São Paulo – mas acompanhava meu pai em suas viagens de vendas e negócios por quase todo o Estado e, ainda bem guri, aprendi a dirigir. Eu vivia brincando de dirigir sentado atrás do volante em alguns dos carros (caminhões, caminhonetes ou automóveis) que o pai tinha para sua firma, quando num domingo, saindo para passear meu pai parou a caminhonete, uma Ford 37-V8 e disse: ‘senta aqui guri’ – eu tinha 9 anos (1948) – e achei que era para sentar ao lado dele como até então havia acontecido.

Não! Era para guiar mesmo. ‘Senta’- ordenou ele – ‘põe em ponto morto, liga o motor, debria, põe em 1ª e vai soltando o pé devagarzinho da embreagem e acelerando’. Não deu outra: a camionete saiu pulando que nem cabrito e apagou. Mas então eu tinha ‘sentido’ como era o ‘babado’…e vi que soltando devagarzinho a embreagem, antes de soltar toda, o carro já começava a andar, então nunca mais nenhum carro pulou e eu não quis mais parar e a paixão pelo volante durou até os 70 e poucos anos… Naquela hora então meu pai me disse: – ‘A lei manda andar sempre pela direita’ (mas que direita se tem só um trilho para os 2 pneus?) – 1947 não havia estrada larga, nem asfalto, nem rodovia, nem quase carros especialmente em distantes interiores do Brasil – era tudo terra. – estradas estreitas com um par de caminho feito a pneu… e era isso. ‘Não filho’, diz ele ‘quando vem um carro no outro sentido, você fica na direita…dá um trilho pra ele e fica no da tua direita, principalmente, se está chovendo e a estrada está lisa’… ah bom!…então fiquei sabendo que isso era lei…E fui em frente.

Ao longo de minha vida, doido por um volante, dirigi quase tudo que apareceu na minha frente: todos tipos de automóveis automáticos ou não, caminhonetes, caminhões Ford, Chevrolet, Internacional e Studebaker, um Scania-jacaré com carreta, ônibus, caminhão boiadeiro, uma patrola motoniveladora, uma pá-carregadeira, uma empilhadeira, uma colheitadeira automotriz e – difícil de acreditar mas verdadeiro – por uns poucos minutos – pilotei uma composição do chamado “Trem Minuano” da VFRGS que, quebrando o silêncio milenar dos campos, cruzava todo o Rio Grande do Sul.

Pois esta “encantadora loucura” aconteceu assim: em 1957 eu vim morar em Porto Alegre, para estudar, e a cada folga além das férias normais, eu “pegava” o Trem “Minuano” – lindo, confortável, mais rápido que o ônibus (na época) – e lá ia eu para Ijuí e sempre – todas as mais de 20 viagens – eu ‘conversava’ com o Chefe de Trem e, pelo menos metade da viagem eu fazia na Cabine junto ao Maquinista. Normalmente no trecho depois de Santa Maria. Diversas, senão dezenas de vezes eu fiz o papel do “apanhador” da licença. Como esse trem só parava em cidades, ele passava direto em todos vilarejos e estações de telégrafos ao longo da linha – mas tinha que ter a licença de “linha livre” do telegrafista. Para o trem não parar o telegrafista prendia o papel da licença num arco de vime e ao passar pela estaçãozinha o trem reduzia e alguém da cabine pegava o arco (enfiava o braço no arco erguido pela mão do Chefe da Estação), tirava o papel e jogava o arco de volta. Isso eu fiz “mil” vezes.

Mas um dia, num trecho próximo a uma vila chamada Alto da União, eu pedi e o maquinista deixou eu me sentar por uns minutos e segurar os Comandos (freio e acelerador). Foi pouco mais de mil metros, mas “eternizou” aquele feliz momento. O Maquinista se manteve junto à mim, pronto para intervir. Mas “guiei um trem” da VFRGS (Viação Férrea do Rio Grande do Sul) Eu tinha 19 anos. Vocês não podem imaginar o grau de realização, contentamento e emoção que isso causou. Dirigir, mesmo que por poucos minutos, tudo que foi tipo de veículo, foi um sonho realizado. Não fui timoneiro de navio. Na água só usei remo e motorzinho mas voei muito em teco-teco no curso de brevê. Vivi grandes emoções atrás de um volante e de um manche.

Na próxima edição de “LEMBRANÇAS QUE FICARAM 12 contarei a história de como Luiz Carlos Prestes se “adonou” do cavalo do meu Tio Marino Bós.

 

Luiz Carlos Sanfelice é advogado jubilado, auditor, ex-vice-presidente de multinacional, e-mail: lcsanfelice@gmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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