Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024

Porto Alegre
Porto Alegre, BR
19°
Fair

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Colunistas Lembranças que ficaram (19)

Compartilhe esta notícia:

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A fazenda de Itu – Nunca imaginei…

Houve um período de minha vida que aprendi a negociar a compra de gado para abate, para o negócio de meu pai, nos anos de 67 a 69. Melhorei a montaria e aprendi a comprar gado… Um fazendeiro de quem me tornei muito amigo e onde seguido me hospedava, era uma enorme fazenda (não lembro o nome – 48 quadras de campo em Itaqui) dividida em diversas lindas e bem aguadas invernadas. Ele era expositor premiado da EXPOINTER, de nome Jaime Masgrau Morél Filho. Tenho fotos dele e de sua fazenda. Vinha, há tempos, na rotina, comprando pequenos lotes de 50/60 reses, até que um dia fechamos negócio de 600 vacas. Em meados de Agosto de 68, o Lote já estava perto do fim e tinha que providenciar novos fornecedores. Pensei: “É agora que vou quebrar um tabu” – vou visitar a Fazenda ITU do Getúlio Vargas, morto em 54, e ver quem é que “manda” por lá. E fui. E caí duro. Eu tinha 29 anos.

Getúlio Vargas casou com a Srta. Darcy Sarmanho, de nobre estirpe e respeitada família de grande estanceiro. Tiveram 5 filhos: Lutero, Jandira, Alzira, Manoel Antônio e Getúlio Fº. Dona Darcy, depois de uma vida ativa, produtiva e plena de benemerência, morreu aos 66 anos em Junho de 68 e a seu pedido, foi enterrada ao lado do filho mais novo, Getulinho, no Rio.

Para viajar por aquelas estradas da fronteira, eu tinha um “fusca envenenado” bem equipado e levava comigo um “assessor” bom de tiro, meio pinguço, bom de briga e conhecedor do campo. Pois era pouco antes do cair da tarde de uma quarta-feira, dia 11 de setembro de 1968, quando chegamos a célebre Fazenda do Itu. Tomado de puro encantamento, meus olhos foram “filmando” tudo na minha mente. Ao lado da “casa grande meio assobradada”, um lindo Barracão coberto de capim Santa Fé, abrigava uma bem equipada área de estar, com churrasqueira, mesas e bancos e diversos banquinhos gaudérios de 3 pés. Sentados nesses banquinhos, 2 cidadãos, conversando. Apesar de na época estar levando “uma vida campeira” eu já era graduado em Direito e em Administração de Empresas e, pois, capaz de manter uma conversação de alto nível. Identificadas as partes e feitas as apresentações, os 2 cidadãos não eram nada mais nada menos que o Dr. Lutero Sarmanho Vargas e o Sr. Manoel Antônio Sarmanho Vargas (Maneco Vargas), o 1º e o 4º filho de Getúlio e dona Darcy. Meu Deus… por essa eu não esperava. Andando por aquelas fazendas eu nunca sabia se falaria com o dono ou com o capataz e, por via das dúvidas, sempre levava no fusca 2 garrafões de bom vinho e 2 garrafões de boa cachaça. Sentamo-nos e meu “assessor” trouxe um garrafão de cachaça e ofereceu ao “Maneco” que aceitou e abriu e logo tomaram um trago. Fiquei conversando com Dr. Lutero (maravilhado por vê-lo pessoalmente) e logo ele me convida a entrar no Salão de Visitas da Casa, onde tinham guardados lindos presentes que Getúlio ganhara quando governara de 30 à 45. Fiquei encantado em ver um cinzeiro com 4 apoios de ouro maciço, um estojo de couro cravejado de pedras e dentro um par de pistolas de duelo, uma espada muçulmana “cimitarra” enorme, cravejada de pedras e outros objetos (canetas, peso de papel, grampos e prendedores – tudo em ouro) que estavam guardados. Sentados em luxuoso conjunto de sofás de couro, falei na compra de gado e foi então quando Dr. Lutero me explicou que ele e o Manoel estavam ali, era justamente para fazer a contagem dos bens móveis, imóveis e semoventes contidos na Fazenda, pois precisavam saber para realizar o inventário em decorrência da morte de dona Darcy, mãe deles, ocorrido no mês de junho passado (26.6.68), e assim nada podiam negociar.

A noite chegou e fui convidado a me hospedar na fazenda, naquela noite. O que aceitei com alegria. Depois de agradável jantar, Dr. Lutero mandou a governanta me acompanhar ao meu quarto, na parte do sobrado da enorme casa. Caí duro… meu Deus… não pode ser! Mas era! O quarto que me foi destinado era a própria suíte do Getúlio, mobiliado como ele deixou (imagino) e anexo o banheiro (enorme). Ao lado do armário do banheiro estava o Saco de Tacos de Golfe. Eu olhava e não acreditava. Peguei um taco, balancei no ar, brinquei e não acreditava… Me recolhi e custei a dormir… um dia vou contar pros meus filhos e netos… será que acreditarão? Pois meus caros, é verdade. Mas na distante noite de 11 para 12 de setembro de 1968, jantei na mesa do Getúlio, dormi na cama do Getúlio, tomei banho no banheiro do Getúlio e, na manhã seguinte, fui visitar a área onde Getúlio sentava na rede e, depois… me despedi, agradeci e “caí na real”. Não comprei nenhum gado, mas vivi uma história real, maluca, marcante e inesquecível.

(Luiz Carlos Sanfelice, advogado. auditor – E-mail: lcsanfelice@gmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Panorama Político
Notícias da Assembleia Legislativa do RS
https://www.osul.com.br/lembrancas-que-ficaram-19/ Lembranças que ficaram (19) 2024-04-24
Deixe seu comentário
Pode te interessar