Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de maio de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Com o intuito de nos “afiarmos” para a prova na Escola de Cadetes, em 1955, eu e o Waine do Canto, meu amigo e colega, havíamos (só os dois) tido aulas particulares de matemática, à noitinha, na casa onde morava um Capitão do Exército com a família, em Cruz Alta. Em verdade não era uma simples casa; era um palacete neo-clássico muito requintado, imagino que construído por uma daquelas famílias antigas da cidade. Num semi porão, era a sala de aula.
Consta que esse Capitão, promovido a Major ainda em Cruz Alta foi depois transferido para o Rio onde seguiu a carreira chegando ao generalato e atingiu as 4 estrelas e acabou por ser convidado pelo Tancredo Neves e confirmado pelo Sarney, como Ministro do Exército. O ‘tal’ Capitão não era nada menos que o General de Exército Leônidas Pires Gonçalves, que muitos anos depois de 1955, em 2002, junto com sua esposa, dona Dóris, um monumento de dama do mais fino e requintado trato social e cultural, por circunstâncias sociais da vida, vieram a se tornar meus queridos amigos, que muito estimei.
Todo mês, de Porto Alegre, eu ligava para o Rio, no Leblon onde ele morava e trocávamos ideias e ‘batíamos um papo’ sobre atualidades políticas do Brasil. Todo ano no dia 19 de maio, era um telefonema especial e eu abraçava-o via fone, pois era o dia de seu aniversário. E o tempo passou. Com mais de 90 anos ele corria, todos os dias, em exercício que o mantinham ‘em forma’ o que não o livrou de morrer, serenamente, em junho de 2015, aos 94 anos. Liguei naquele dia para ‘bater um papo’ e me atendeu seu motorista que me disse, com voz baixa e respeitosa: “Dr. Sanfelice, o General morreu esta madrugada…dona Dóris está sob sedativo”.
Em verdade levei um choque, pois não esperava nem pensava ainda nesse tipo de notícia. Mas aconteceu e fiquei triste. Dona Dóris, sua esposa sofreu um profundo abalo. Dias depois falei pela primeira vez com seu filho Dr. Miguel Pires Gonçalves com quem tenho agora, ocasionalmente, trocado mensagens via “WhatsApp”.
Lamentei perder um tão nobre amigo e um homem de tamanha firmeza, integridade e honradez.
Mas em Janeiro de 1956 eu e meu colega de aulas particulares em Cruz Alta, com o então Capitão Leônidas Pires Gonçalves, viemos à Porto Alegre fazer as provas para ingresso na Escola de Cadetes, então chamada de EPPA – Escola Preparatória de Porto Alegre, onde por 3 anos completávamos a instrução secundária (similar ao Científico, Clássico ou Contabilidade) para então ingressarmos na AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras, onde se formavam jovens oficiais que no futuro viriam a ser fiéis, íntegros, nobres e destemidos Oficiais Generais , patriotas defensores da Pátria. Meu colega Waine do Canto e Souza passou e meu olho esquerdo “me traiu” e não pude ingressar. Os anos passaram, a história de vida de cada um aconteceu e, agora, o tempo me fez perder a ambos. Em 2015 morreu o General Leônidas e em 2023 morreu meu amigo Waine, já então Coronel reformado. Gosto de pensar que ao longo de quase 70 anos mantivemos contato, boas lembranças e uma linda amizade. E isso consola e faz bem ao nosso coração.
No decorrer de minha vida fiz muitas boas relações, se não de amizade, pelo menos de companheirismo, com dezenas de pessoas, em todos os Estados do Brasil e alguns do Paraguai em função da construção da usina de ITAIPU, da qual participei, e agora, aos 85 anos, de forma triste e inevitável, pois é da vida, toda semana fico sabendo de um ou outro “que se foi”… e é assim é que é… e não tem jeito de evitar. Cultive suas relações, pois “o coração até no infinito vê”.
Luiz Carlos Sanfelice – e-mail: lcsanfelice@gmail.com
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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