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Lembranças que ficaram (21)

O vão móvel da ponte tem história

O Engenheiro Civil, Mecânico e Eletricista EGON JOST, nascido na então pequena e desconhecida cidade de Ijuí, em 1930, filho de descendentes de imigrantes alemães, fez o Ginásio no Sinodal de São Leopoldo e os 3 cursos de engenharia da UFRGS. Aluno brilhante logo ao se formar em 1953, foi chamado pela Machinen Fabrik Oerlikon, na Suíça, para onde foi, já casado. Lá morou 2 anos e literalmente, além da procura da perfeição técnica como bom alemão, adquiriu a precisão milimétrica dos Suiços e chegou à SIEMENS na Alemanha, onde aprimorou seus conhecimentos e em outubro de 57, por ordem da Empresa, voltou a morar no Brasil, em Porto Alegre, já com destino certo, pois cabia a SIEMENS Do Brasil, montar o painel de instrumentos que ergueriam o Vão Móvel da Ponte do Guaíba em fase de construção e calibrar e sincronizar os motores para elevar o vão móvel com absoluta precisão.

A inauguração da Ponte estava prevista para 1958, na época sob o Governo do Engº Ildo Meneghetti. E de fato, foi assim. Egon se debruçou noites e noites em claro sobre todo esquema elétrico de funcionamento e de como ajustar a sincronia. Nessa época o irmão mais novo do Egon, o depois mundialmente conhecido Geólogo Hardy Jost, morávamos juntos na Tv. Ferreira de Abreu, mais o Mário Matte que veio a ser conceituado médico angiologista em Santa Maria. Juntos acompanhamos meio ao largo, o trabalho do Egon e quando ele concluiu que tudo estava justo e acertado no papel, quis fazer o teste. E lá fomos nós junto ver se a Ponte subia. E subiu, serena, tranquila, sem roncos, estalos ou desvios. Só não tomamos um fogo de Champagne Don Perignon porque nem tinha aqui e nem nós tanto dinheiro para nos darmos a esse luxo. Durante muitos anos tinha uma placa fixada na coluna que dizia “RESPONSÁVEL TÉCNICO ENGº EGON JOST”.

Com a Ponte funcionando, Egon voltou a morar em SP. Certo dia em viagem à Buenos Aires é informado que o Edifício Andraus, sede da SIEMENS no Brasil havia incendiado. Seu escritório com centenas de projetos das muitas Usinas que ajudou a construir, foi totalmente queimado. Trabalhando arduamente seguia a vida até que UM DIA O IMPENSÁVEL ACONTECEU: Egon, passageiro de um voo comercial de rotina, a caminho de Manaus, de repente ouve o Comandante chamar: “Atenção Engº Egon Jost, por favor, compareça com urgência na cabine de comando”. Deus do céu??? Como??? O Comandante nem me conhece, mas sabe meu nome. Nossa!!! Egon saltou do assento e ‘voou’ até a cabine. O Comandante lhe diz: “O RS está parado, precisam de você em Porto Alegre – a Ponte enguiçou a meio caminho, nem sobe nem desce, parou tudo, o navio que ia passar mal conseguiu parar e centenas de pessoas em ônibus, carros e caminhões, num lado e noutro, nem pra frente nem pra trás”. “Engarrafou toda região. Tudo parado e disseram que só você conhece tudo daquela Ponte”. “Por caminhos impossíveis você foi localizado a bordo deste avião e eles estão “na escuta” via rádio para saber o que fazer”. (Nenhuma surpresa na vida pode ser tão surpresa como uma coisa assim). E agora… “faz mais de 35 anos que fiz aquela ponte funcionar”… mas quem sabe, sabe, quem tem conhecimento e preparo sabe ‘onde pisa’ e logo tudo do esquema da Ponte passou por sua cabeça e a possibilidade do que era, “se iluminou” na sua mente. O Vão estava torto, deslocado.

Egon identificou qual torre estava fora do prumo, então mandou que acessassem um determinado ‘disjuntor’ e perguntou: “vejam se não tem um ninho de pássaros ou penas junto ao disjuntor? Se não tem uma pena de ave interrompendo a corrente?” Ora, ora, ora, meu Deus do céu!!!… lá estava a dita pena. Bastou removê-la e o circuito funcionou. Agora tinha que nivelar o vão que estava torto. Egon, via rádio do avião,(e o avião voando) foi dizendo, “tanto pra cá, tanto pra lá” até que os instrumentos marcassem a sincronização restabelecida. E assim foi…Naqueles inacessíveis cantinhos da construção, no meio d’água nada teria acesso a menos que voasse e o local é cheio de pássaros que ali vivem e nidificam. Pois nada mais do que uma simples e despretensiosa pena da asa de um deles foi, de algum modo, ali pousar e interrompeu a corrente e trancou tudo. E Egon imaginou essa possibilidade. Não deu outra.

(Luiz Carlos Sanfelice – lcsanfelice@gmail.com)

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