Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Luiz Carlos Sanfelice | 15 de maio de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
E a mala quase entrou na toca…
Em 1973, morando em SP, conheci um rapaz que depois se tornou amigo, funcionário de uma indústria automobilística em São Bernardo do Campo, e vinha se destacando como um bom profissional, e como era costume em todas grandes multinacionais, os brasileiros que se destacassem, eram enviados aos EE.UU. na sede da Empresa para receber um treinamento e aprimorar seus conhecimentos e assim galgar melhores posições e salários.
Normalmente esses rapazes desembarcavam em Nova York e alguém os recepcionava portando uma folha de papel com seu nome e. de carro, ou o levavam para o Escritório em N.Y. ou até o aeroporto regional para ir para outra cidade, caso a sede da Empresa não fosse por ali. Assim, num dia de março daquele ano, os amigos e os familiares acompanharam o amigo Engº Cirineo Rios ao aeroporto de Congonhas, onde ele embarcaria para o Rio e daí para N.Y. (naquele tempo não tinha voo direto de SP para os EE.UU.). Hoje em dia (e até entende-se) não vai mais quase ninguém ao ‘bota-fora’ do viajante, mesmo sendo uma grande viagem internacional. Os costumes são outros e isso praticamente não acontece mais, especialmente entre os executivos das empresas. O jovem executivo vai com a esposa ou com os pais que o levam até o aeroporto e lá se despedem, às vezes por 6 meses, 1 ano e até mais. Era a primeira viagem de avião, pois nascido e criado na cidade de São Paulo ali vivia sem nunca ter tido necessidade de viajar para longe e só andava por ali na região. Assim, conheceria avião e justo numa longa viagem internacional e, desse modo, não conhecia os procedimentos dos passageiros em um aeroporto, nem como as coisas funcionavam.
Chegado a Nova York ele viu uma porção de pessoas com ‘placas’ com nomes diversos, mas não viu o seu. Certamente, por alguma razão a pessoa que iria recepcioná-lo estava atrasada. Ficou por ali olhando pra cá, olhando pra lá e entre outras coisas viu lá adiante não muito longe mas também não muito próximo, um grupo grande de pessoas que curiosamente estavam de costas para a saída. Não chamou muito sua atenção. Curioso, olhava os acontecimentos e as pessoas que por ali transitavam. Mas acabou notando que aquele grupo foi diminuindo e foi diminuindo mais, e acabou ficando poucos e então passou a observar melhor e quando tinha ainda uns 3 ou 4 ele notou que malas iam passando no que seria uma esteira e, de repente ele viu a mala dele. “Mas como!? – achei que iam me entregar na saída” – ingenuamente pensou o ‘marinheiro de 1ª viagem’. E a mala tendo saído de “uma toca” ia, inexoravelmente, se dirigindo a “outra toca’’, já tendo feito nem sei quantas voltas. Mas ele não sabia disso. “Meu Deus – tenho que pegá-la – se não o fizer nunca mais vou ver minha mala” (ele não conhecia o processo) e saiu em desabalada corrida…
No momento que sua mala ia entrar “na toca” ele se jogou em cima da esteira e pegou-a numa ponta, e a esteira rodando, enroscou, rasgou e “comeu” parte seu paletó e de suas calças – “mas peguei a mala”… E assim ele se apresentou ao seu recepcionista que, nesse ínterim, havia chegado. É assim mesmo: quando a gente não conhece como são as coisas, acabam acontecendo coisas hilariantes, cômicas e até perigosas…
A explicação que ele deu para seu recepcionista fez o homem cair numa gargalhada que o jovem inexperiente não entendeu. Afinal ele tinha rasgado a roupa “por uma boa causa”. Voltou diversas vezes aos EE.UU. e, já veterano, nunca mais deixou nenhuma mala se aproximar “da toca”… de novo.
Uma ocasião o engº Cirineo Rios esteve em Porto Alegre acompanhado pelo engº Rapph McIntyre e juntos fomos à Pelotas para monitorar um vazamento de Exano numa empresa local e a Rio Grande no estaleiro de construção de uma plataforma submarina para vistoriar a instalação dos pontos de monitoramento de eventuais vazamentos de gases combustíveis. Na época nos deslocando sem contratempos, o que não seria possível nos dias atuais (Maio 2024) quando vivemos tão dolorosos episódios provocados pelas chuvas.
(Luiz Carlos Sanfelice – lcsanfelice@gmail.com)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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