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Colunistas Lembranças que ficaram (23)

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Jango, Brizola, Mondin, Adhemar – foi de não acreditar, mas foi

No mês de junho de 1961 (eu tinha 21 anos) o então Senador Guido Mondin tinha vindo a Porto Alegre, por assuntos políticos, e o Dr. Pires – Chefe do Gabinete da Secretaria de Estado onde eu trabalhava, me mandou acompanhá-lo levando-o aqui-e-ali em viagem, onde precisasse. Andamos por algumas cidades do interior do Estado e voltamos com data marcada para sua volta à Brasília. Note bem a data. Brasília recém tinha sido fundada-inaugurada e era Presidente da República o Jânio Quadros (que logo renunciaria – mas, claro, a gente não sabia) e o João Goulart era o Vice-Presidente. O Governador do RS era o Brizola. No dia aprazado por volta das 6:00 da manhã, levei o Senador Mondin ao aeroporto e fiquei com ele no saguão do Salgado Filho, em pé, conversando, (o aeroporto completamente vazio – imagina: 6 da manhã, inverno – 1961) quando de repente encosta cantando pneus um carro preto oficial placa preta pilotado por um capitão da Brigada e com dois batedores (em silêncio) de moto e dele descem, para meu espanto, o então Vice-Presidente da República João Goulart e o Governador Leonel Brizola que fora acompanhá-lo ao aeroporto. (Dali menos de 60 dias estoura a “Legalidade” com a renúncia do Jânio Quadros)

Entraram e logo viram o Senador Mondin com quem muito se davam e pararam para conversar. O capitão foi cuidar do embarque. Ficamos ali, os 4, eles conversando e eu de boca aberta, não acreditando que naquele momento. Eu, um guri, estava ali com o Vice-Presidente da República, com o Governador do Estado e com um Senador. De repente, (vocês não vão acreditar) surgido não sei de onde, encosta outro carro com motorista, esse particular, e dele desce e entra no aeroporto (incógnito) nada menos que o Adhemar de Barros, que há pouco tempo havia deixado o Governo de São Paulo e que nos vendo, parou e ficou junto. Meu Deus! O que é isso?…estou tendo visões! Depois eu soube: a visita do Adhemar fora totalmente incógnita e pessoal (ele não era mais Governador) Nossa mãe!…eu estava completamente abobalhado. Fiquei ali até o Jango e o Mondin embarcarem viajando no mesmo avião de carreira da Varig. Não sei onde o Adhemar embarcou – acho que tinha seu próprio avião.

Tendo eles embarcado, nos dirigimos para saída sem falarmos e cada um em direção ao seu carro. O Governador Brizola mal me conhecia (eu era Oficial de Gabinete de um dos seus Secretários de Estado). Quando saímos na porta ele se vira e me pergunta: Quer uma carona? – ele não sabia que eu estava de carro… Surpreso e meio desnorteado respondi: Sim. Aceito! Ah meu caro – era tudo o que um guri poderia querer… Embarquei… Nem imagina o quanto o peito estufou. O carro seguiu e fui respondendo perguntas que ele fazia sem me atrever a fazer nenhuma. Mas chegar ao Palácio, entrar de carro no pátio dos fundos, desembarcar ao lado do Governador com os funcionários vendo (eram poucos – mas viram), nossa! …era tudo o que eu podia querer. Apertei sua mão, me despedi e agradeci. Fui na frente do Palácio, ataquei um táxi e voltei ao aeroporto pegar o “meu placa branca” que lá deixara. Ter andado no “Placa Preta nº 1” só eu e o Governador, era mais do que já havia sonhado.

(Luiz Carlos Sanfelice – advogado – auditor – lcsanfelice@gmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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