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Colunistas Lembranças que ficaram (32): o senhor Röessler e o Rio dos Sinos

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Henrique Luiz Roessler. (Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O que esse homem conhecia e o tanto que me ensinou sobre o equilíbrio da natureza e a função de cada planta ou organismo vivo para o equilíbrio da vida, foi uma coisa maravilhosa. Hoje o nome dele ilustra o grande órgão gaúcho de controle do meio ambiente, a FEPAM que leva o nome de “Fundação Estadual Henrique Luiz Röessler de Proteção Ambiental”. Convivi com ele nos anos de 1959/60 e 61, então com 19,20 e 21 anos de idade.

A beleza e o bom é que aprendi tudo isso sem estar numa sala de aula, mas ali: nos pampas, nos rios, nos banhados, nas várzeas, no morro, no campo, na colônia, no meio dos pinheirais, no fundo dos cânions ou no alto das formas geológicas espetaculares que temos perto de Caçapava do Sul, onde próximo funcionou a mina de extração de minério de cobre, chamada Minas do Camaquã. É uma região cheia de furnas, cavernas e morros de pedra talhados pelo vento, onde, ousadamente, sobem cabras equilibrando-se, não sei como, naqueles assustadores precipícios. E não tinha tempo bom ou ruim, frio ou calor, perigo ou não, lá ia o seu Röessler (e eu ia junto). As leis e regulamentos ambientalistas naqueles tempos não eram muitos nem tão rigorosos como felizmente são hoje em dia. Mas ele era inflexível na obediência às suas determinações, mormente, em relação a documentação das armas e quotas de abates assim como de grau de abertura das malhas de redes de pesca. As plantações de arroz colhem água dos rios com enormes bombas de sucção. Nós passávamos e ele olhava a plantação: se tivesse garça pousada é porque tinha peixe e significava que o tubo dentro do rio não tinha tela para evitar a sucção de peixes. Eu entrava no rio, conferia e, pronto, ele aplicava uma pesada multa.

Uma vez aconteceu um episódio inédito completamente inesperado e insólito. Fiscalizando a caça e pesca, num domingo à tarde, ele me postou com dois brigadianos, próximo a Vacaria, pela BR 116, e ele foi na outra entrada de quem vem (ou vinha) de Lagoa Vermelha. Tudo transcorria normal, prendendo o produto da caça se excedia o limite e as armas. Chega então e é parado um jipe “Candango” da DKV ocupado por um homem jovem, sozinho. De camisa aberta, bem à vontade me disse que estava vindo de Brasília, e que ia à Bagé onde tinha uma fazenda do seu pai. O rapaz deveria ter uns 25 anos. Já ia liberá-lo quando vi no chão, atrás do banco do motorista, um pacote estranho. Levantei e comecei a abrir e o cara “branqueou” e começou a dizer que era um presente, que ele precisava muito, me ofereceu dinheiro e quase chorou. Abri o pacote e era nada menos que uma metralhadora “Thompson Machine” .45 toda desmontada. Prendi e não teve Cristo que me comovesse. O rapaz meio chorando seguiu viagem.

Então, todo lampeiro, ajustei os tirantes, botei a tira-colo e me postei no meio da rodovia e bastava um pequeno sinal de mão e fosse quem fosse, parava mesmo. E eu todo pimpão realizava a fiscalização…Nesse dia rendeu tatu, capivara, passarinhos, um monte de perdizes e perdigões caçados acima da quota. Ao final do dia fui buscar o ‘seu’ Röessler na outra estrada e viajamos à Porto Alegre. Entreguei a ele a metralhadora e toda caça aprendida, deixei-o em São Leopoldo onde morava e cheguei em casa, já madrugada, literalmente ‘podre’ de cansado.

Em novembro de 1963, aos 66 anos, ‘seu’ Röessler faleceu deixando uma lição e um exemplo de amor e proteção à natureza. Escrevi uma longa carta ao então Prefeito de São Leopoldo, sugerindo que fosse erguido um busto do Sr. Röessler, na praça ao lado do Rio dos Sinos que ele tanto amava.

Hoje em dia um geólogo de renome, Dr. Antônio Carlos Simões Pires Geske, junto com aos que se preocupam com o Rio, cuida e faz o papel de Protetor do Rio e dos que habitam seu entorno, com o mesmo carinho, atenção e profissionalismo que, certamente, faria se vivo fosse o meu lembrado amigo Henrique Luiz Röessler, a quem sempre lembrarei e homenagearei com respeito, admiração e apreço.

(Luiz Carlos Sanfelice, Advogado, Auditor – lcsanfelice@gmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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