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Colunistas Lembranças que ficaram (36): ruínas missioneiras de São Miguel

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Na época do Brasil Colônia os Padres Missionários da Ordem dos Jesuítas – oficialmente Ordem da Companhia de Jesus – (até hoje a mais bem preparada e culta de todas as Ordens Sacerdotais sancionadas e reconhecidas pelo Vaticano) foram autorizados a virem ao “Novo Mundo” Espanhol e Português (no Brasil com destaque ao Padre Anchieta e Manoel da Nóbrega) para ‘converter’ e ‘catequizar’ os povos nativos em nome de Cristo à Fé Católica. Os de Portugal ficaram no Brasil e os da Espanha foram para as Colônias Espanholas. Em longes terras e lindas campinas, com domínio ainda não bem definidos se espanhol ou português e conheceram as lindas cachoeiras desses rios e especialmente a grande cachoeira do rio Iguaçu (afluente do Paraná) que ficou internacionalmente conhecida como Cachoeiras da Foz do Iguaçu (ou Quedas do Iguaçu).

Então, na margem do rio Uruguai os Jesuítas foram reunindo os índios da tribo Guarani e ensinando-lhes o que vieram ensinar e criando na região 7 núcleos (povoados) que ficaram conhecidos no RS como “Os 7 Povos das Missões” aos quais deram os nomes de São Borja, São Nicolau, São Miguel, Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga, São Lourenço e São João Batista. Eles fundaram, também, povoados indígenas na Argentina e no Paraguai. Depois de todos os eventos históricos e as chamadas “Guerras Guaraníticas” onde ficou celebrizado o nome do índio “Sepé Tiarajú” com o célebre grito de guerra incitando seus guerreiros, “ESTA TERRA TEM DONO” – GO YVY OGUERECO YARÁ (em guarani), os Jesuítas foram mortos e/ou expulsos e os pobres índios dizimados pelos soldados espanhóis e portugueses porque aquelas terras missioneiras então “pertencentes” à Espanha” foram trocadas pelas terras portuguesas no Uruguai com sede em Colônia do Sacramento e cada reino queria ocupar suas terras com seu povo.

E os povoados ficaram esquecidos no tempo. Alguns floresceram e se tornaram cidades conhecidas como Santo Ângelo, São Borja e São Luiz. Outras nunca passaram de povoados e outras viraram ruínas. Hoje considera-se Capital das Missões a cidade de Santo Ângelo que foi a que mais se desenvolveu e São Borja se tornou famosa por ser a cidade natal de 3 Presidentes da República (consta ser a única no mundo): Getúlio Vargas, João Goulart e Pedro Eugenio Aramburu. Diz-se ‘em conversas de cocheira’ que Aramburu, que foi militar e Presidente da Argentina em 1955, em verdade nasceu em São Borja mas precisou atravessar o rio e ‘ser argentino’ para entrar no Exército e apenas foi registrado como tal (não naturalizado). Mas isso não é oficial. Curioso que o nome próprio (não sobrenome) não é espanhol. (teorias da conspiração???).

Das 7 Reduções, São Miguel era a Capital e tinha uma enorme e imponente Catedral que foi abandonada e virou ruínas. Desde guri eu tinha o grande desejo de conhecer essas ruínas que eram perto de onde nasci. Nas férias escolares eu viajava com meu pai (caixeiro-viajante) ajudando-o, e nas férias de julho de 1950 meu pai decidiu viajar para São Luiz, São Borja, Itaqui e Uruguaiana e me prometeu que no caminho de volta passaríamos nas ruínas de São Miguel. Naquela viagem, completei 11 anos em São Borja e conheci seu amigo Juraci de Assis Machado, capitão do Exército, que nos levou de lancha “no outro lado” – San Thomé, Argentina. Foi a 1ª vez que saí do Brasil. Um dia maravilhoso. Na volta dessa viagem meu pai desviou a Fordson e entramos numa estradinha que levava até as Ruínas de São Miguel e que, há uns 10 anos, havia sido oportuna e meritoriamente restaurada (o quanto possível) por ordem de Getúlio Vargas.

Era uma tarde de um lindo dia. Foi um acontecimento memorável ver aquilo. Meu coração se encheu de sublime encantamento e andei por todos os lados e por cima de todas aquelas paredes, subi em todas as escadas furtivas e misteriosas daquelas paredes. Numa dessas escadas tem um óleo em 3 de seus degraus já quase no topo que, conta a lenda, ser de uma enorme serpente com chifres que um raio matou e que nunca secou. Verdade ou não de 1950 à 1985 estive lá mais de 15 vezes e sempre ia lá conferir o óleo (ou graxa) preta – lá estava sempre e imagino que ainda esteja O Cemitério Jesuíta ao lado da Catedral não existe mais, mas em 1950 ainda existia e andando por entre velhos e demolidos túmulos jesuíticos centenários, a maioria abertos, encontrei jogados no chão, ali, lá e acolá, fêmures, tíbias, e crânios. Garoto, profundamente católico, crente no ensinamento que um dia “Jesus virá ressuscitar os vivos e os mortos” fiquei preocupado e matutando em como esses defuntos, no dia da “ressurreição da carne” (“de corpo e alma”) iriam encontrar seus ossos e saber qual osso é de quem…(eu era guri e nada sabia).

Batemos uma foto (13.07.1950) que guardo até hoje e, até hoje, ao olhar a imagem daquelas vetustas ruínas, meu pensamento fica a imaginar toda a história do que ali aconteceu antes, durante e depois das injustas e sangrentas “Guerras Guaraníticas”.

(Luiz Carlos Sanfelice, advogado jubilado, auditor – lcsanfelice@gmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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