Sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Por Luiz Carlos Sanfelice | 28 de agosto de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No final Século passado, há uns 30 anos, numa reunião social, conheci um engenheiro civil de nome Cairu Lampert, com quem mantive prolongada conversa que, de temas políticos em geral, derivou para a vocação industrial e agropecuária do Brasil, ocasião em que fiquei sabendo, por ele mesmo, que sua especialidade na Engenharia era a construção de silos de concreto para armazenamento e conservação de grãos (trigo, soja, milho e arroz) e guarda de outros materiais como Caulin, Clinquer e outros.
Na ocasião lembrei da balbúrdia que foi, durante anos, os “vai e vem” de Decretos-lei, e de atos e ações governamentais, tanto nos governos de Getúlio Vargas quanto em outros e entre os produtores diretamente envolvidos, especialmente no desenvolvimento da produção de trigo. Se deveria importar ou aumentar a produção local e a guerra entre os produtores, entre os moinhos, o Governo e o Povo.
Lembrei – embora ainda fosse guri – da enorme campanha nacional promovida pelo governo Vargas conhecida como “Plantai Trigo”. Todo mundo no RS e muitos em outros Estados “se atiraram” no plantio. Na safra foi colhido uma quantidade – hoje nada significativa – mas na época foi espantosamente grande para os padrões então vigentes.
O que aconteceu? Não tinha estradas, não tinha caminhões – e pior – não tinha silos ou nenhum local adequado para armazenar. Resultado: fracasso. Ano seguinte ninguém quis saber de plantar trigo.
Lembrei da história da Exposição Feira havida, na época, em Passo Fundo (epicentro da cultura) na qual compareceu o então famoso Assis Chateaubriand – nada menos que dono dos respeitados “Diários e Emissoras Associadas” e do “Diário de Notícias” na época o jornal mais lido no Brasil, que contam, ter ele dito “vocês gaúchos estão perdendo tempo plantando trigo, o que tem mesmo que fazer é importar lindas mulheres da França e montar belos Cabarés – isso é que dá dinheiro”.
Mas ao conhecer o engenheiro Cairu, lembrei de já conhecer o sobrenome “Lampert” lá da minha região missioneira e fui atrás de saber se tinham ligações parentais. Leandro Lampert, autor do magnífico e singular livro “Os Lampert” disse: “É preciso rasgar a cortina da noite para conhecer o passado e então tentar compreendê-lo com o enfoque do personagem da época”. Consta nos Registros Oficiais a vinda dos primeiros Lamperts ao Brasil junto com outros nomes germânicos que, logo após a Proclamação da Independência (1825) foram “encantados” com a propaganda de uma nova e pacífica vida no Sul do Brasil. Entretanto aqui chegados “se atiraram no plantio” mas “não havia estradas e tudo era coberto de impenetrável floresta povoada por bugres traiçoeiros e cheia de animais selvagens” e logo tendo que enfrentar revoltas populares internas.
Nascido em 1941 em Montenegro – RS, Cairu Lampert veio para Porto Alegre e cursou Engenharia Civil na PUC, onde se graduou em 1967 e se especializou na construção de Silos de Concreto para armazenamento de grãos, mas que em verdade pode, com sucesso, armazenar qualquer coisa tais como Caulin, Cliquer, Cavacos de Madeira, Cimento, residindo aí sua grande vantagem sobre os outros tipos de Silos, além do que o Silo de Concreto pode armazenar grãos e produtos perecíveis por muito mais anos. Os Silos metálicos, que esquenta muito, e os Armazéns Graneleiros, são bons, mas acabam sendo para pouco tempo.
Só o tempo de tirar da lavoura, transportar até o graneleiro do porto e, logo, embarcar no navio. Cairu começou construindo Silos para a Cia. Estadual de Silos e Armazéns – CESA e adquiriu conceito nacional tendo já construído em todo o Brasil, na Argentina, Uruguai e Paraguai, sem nunca, nestes 57 anos, desde que começou, ter tido algum problema em suas obras. Recentemente concluiu as obras do maior Silo do Brasil, na cidade de Rio Grande – RS, onde são agora armazenados “palets” de madeira para geração de energia, exportados para a Inglaterra, no programa de substituição do carvão para aquecimento, até agora usado naquele País. Com o crescimento do Agro, novos Silos de Concreto serão necessários.
Ter silos, ferrovias, portos e estradas são itens de fundamental importância para a economia nacional. Engenheiro Cairu Lampert, hoje com mais de 80 anos de idade, dedicou toda uma vida a um trabalho de alta responsabilidade para uma Nação, segue sendo uma referência nacional, confiável e segura, na construção e armazenamento de produtos vitais para o Brasil. Merece nosso respeito e admiração.
Luiz Carlos Sanfelice, advogado jubilado, auditor
*lcsanfelice@gmail.com
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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