No verão de 1973 minha mulher, meus filhos e minha sogra, estavam passando uma temporada no Rio, na fazenda de meu concunhado, próximo a Angra dos Reis. Meu sogro Júlio Fonseca e eu, sem férias, sozinhos em Porto Alegre, num domingo resolvemos fazer um passeio até Arambaré, lugar de que havíamos ouvido falar como sendo muito aprazível, cujo acesso é pela rodovia 116, quem vai à Pelotas, e a certa altura tem a indicação de entrar à esquerda, e por uma estrada vicinal, chegar até a beira d’água nessa praia da Lagoa. É um muito bonito lugar. Era, em 1973, uma pequena cidade tranquila e onde sempre corre uma brisa agradável. Gente boa e hospitaleira, numa agradável praia de água doce, as margens da temperamental ‘Lagoa dos Patos’ onde, ao longo dos anos pequenas traineiras, barcos de pesca, veleiros e lanchas já afundaram.
Inclusive, conta a história, (fato que propositalmente ficou “meio na surdina”) que um avião caça F-5 da FAB voando no sentido sul-norte, repentinamente e sem explicação plausível (ao menos publicamente) mergulhou e nunca foi achado. Nunca tive certeza se isso aconteceu mesmo, se é lenda ou se foi “escondido” – (lembra que vivíamos sob regime especial). Chegada a hora ‘de ter fome’, por volta do meio-dia e pouco, paramos no que parecia ser uma churrascaria bem frequentada (visto pela trad observação da quantidade carros estacionados no pátio).
Em 1973 eu tinha 33 anos de idade e era ainda “um fominha” por volante. Queria dirigir tudo. Bicicleta de pau, carrinho de lomba, barquinho a motor, já pilotava teco-teco, tinha dirigido um Ford 1917 à Pedal, Chevrolet Pavão e Ford de Bigode, caminhão, ônibus, boiadeiro e motoniveladora. Pois enquanto churrasqueávamos, estaciona na frente da porta uma enorme “Pá Carregadeira” – uma enorme máquina – daquelas que não tem volante, é articulada, e são manobradas por alavancas postadas na frente do assento do operador, inclusive para baixar, erguer e virar aquela enorme caçamba.
Pois fui atacado pelo ‘bichinho’ do “eu quero” e me deu o desatino de pedir ao Operador para dirigir ‘um pouco’ aquele monstro e ofereci pra ele um valor igual a umas 3 vezes o custo do almoço com cerveja. Nossa!!! O cara topou. Subi na máquina…ele me explicou ligeiramente o funcionamento…e mandei ver. Nossa, meu caro, eu me apavorei!! Dirigi pelo pátio de estacionamento da churrascaria e, por nada não abalroei e levei por diante ”meio mundo” e consegui parar, “borrado” de medo. Me veio à mente o que meu velho pai sempre dizia: “ovelha não é pra mato” e dali em diante passei a admirar e valorizar muito mais a perícia desses hábeis operadores de patrolas, motoniveladoras, retroescavadeiras, empilhadeiras, colheitadeiras e aquele gigantescos caminhões “Fora de Estrada”, ou como dizem no Exército: “Viatura QT” – Qualquer Terreno.
Sempre quis dirigir tudo que fosse máquina mas essa me assustou e, como se diz: ‘botei a viola no saco e sosseguei o pito”…
No exercício do meu trabalho, especialmente, junto as mineradoras “à céu aberto” (carvão, ferro, etc) conheci e até andei em cada máquina gigantesca e assustadora, mas comportado sentado ao lado do operador. Em visita à Candiota, lugar de uma imensa mina de carvão à céu aberto, da então Cia. Riograndense de Mineração – CRM, conheci e fiquei impressionado como uma tal máquina chamada “Marion” capaz de numa ‘conchada’ remover 70 toneladas de minério. Essa ‘maquininha’ é mais ou menos do tamanho de um Edifício de 4 andares, com uns 20 metros de lado, e anda sobre lagartas.
Assim, quieta, parada no meio do campo, aquele monstro amarelo, é uma cena surreal, assustadora e espantosa. Fornecia, (não sei se ainda fornece) carvão para a Usina Termelétrica de Candiota – a CGTE. De muito longe, viajando na estrada de Pelotas à Bagé, a certa altura perto de Candiota, no horizonte, a monotonia das coxilhas é quebrada pela visão realmente surreal de uma torre de usina nuclear no meio do nada. É a Torre de Resfriamento da Usina Presidente Médici, em Candiota. É ali que a Marion mora. Uma cena, num cenário, lindo e inesquecível.
Luiz Carlos Sanfelice
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