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Luiz Carlos Sanfelice Lembranças que ficaram (43): o primeiro tronchaço de uma onda

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Em Janeiro de 1950, eu tinha então 10 anos de idade, em pleno verão, meu pai disse à família (minha Mãe, minha irmã Denise e meu irmão adotado Carlinhos) que iríamos de carro para Porto Alegre. Morávamos na então pequena e jovem cidade de Ijuí, habitada por imigrantes e cavalgando velozmente na senda do progresso, pelo trabalho dedicado de seus moradores e filhos, granjeou o título de “Colmeia do Trabalho”. Meu pai tinha duas camionetes Fordson de fabricação inglesa, muito bonitas, com 7 lugares confortavelmente sentados (não sei por qual razão deixaram de fabricar) cujos assentos dobravam e deitavam e ele as usava, também, para seu negócio e nela carregava 25 grandes malas de madeira com uma infindável lista de artigos (de lápis – a Johan Faber produzia um lápis preto com a marca Onda, uma homenagem a minha mãe Ondina – apelido Onda, dada a enorme quantidade que ele comprava, até renda Francesa, lâmina de barbear Inglesa, navalhas Alemãs e faqueiros Eberle). Ao aviso de vamos viajar ia logo dar o maior lustro no meu sapato preto e no marrom pois não podia chegar na Capital com sapatos opacos. Aqui chegados, como sempre, hospedávamos na casa do tio Lauro Zerwes, casado com a tia Alice Bós, irmã de minha mãe. Tio Lauro era Diretor Financeiro da VARIG que ao lado dos Diretores Shally, Schmidt e Rubem Berta estavam levando aos píncaros o prestígio e a internacionalidade dessa grande empresa gaúcha. Isso não o impediu de ter 11 (onze) filhos: 9 Homens e 3 Mulheres. E a visita não era 3 ou 4 dias. Era 15 dias ou mais. No meio da semana decidiram que no próximo domingo iríamos sair cedinho de ir passar o dia em Tramandaí.

Meu Deus! – VOU CONHECER O MAR. A noite não passava. A ansiedade e expectativa não me deixou dormir. A madrugada de domingo não chegava nunca. Para sair não esperamos o amanhecer. A viagem via Santo Antonio da Patrulha onde tinha que se tomar um café, comer um sonho e comprar uma rapadura, foi uma alegria e um suplício – não chegava nunca. A velha estrada saía de Porto Alegre e, nos trilhos que a carroça fizera mais de 100 anos antes, ia via Cachoeirinha, Gravataí, Glorinha, Santo Antônio e Osório para finalmente chegar em Tramandaí. Mas antes tinha de costear a Lagoa dos Barros e alguém contar a história do rapaz que assassinara sua namorada e jogou-a naquelas águas depois de ter saído de um baile no Clube do Comércio, porque ela estava grávida. Uma curiosidade nessa estrada era o sistema que implantaram para controlar a velocidade dos automóveis – sempre com pressa para ir – Tempos em tempos, pequenas guaritas no meio da estrada onde carimbavam (carro por carro) a hora da passagem naquele posto e que não poderia chegar no posto seguinte antes da hora do tempo carimbado. É claro: não tinha “pardal”, não tinha GPS e nem Radar. Já com sol alto e a beira-mar fervilhando de gente, fomos ao mar. Minha Nossa! Que maravilha. Que emoção. Quanta água – “e por baixo tinha mais”…(como disse o Cantinflas num filme) ou como dizem que disse aquele ‘guasca’ que chegou ao mar: “mas que baita taipa tem que ter esse açude”. Entrei meio afoito e logo levei um boleio que me fez sentir para sempre que ali quem manda é ele. Tomei muitos outros ‘tronchaços’ naquele dia mas já então ‘administrados’. Passei o dia dentro d’água e tomei uma solene queimadura pra nunca mais esquecer… mas conheci o mar…

Desde então, passados já 75 anos, todos os anos ‘salguei minha pele’ nas turbulentas praias do Atlântico Sul. Mesmo nos anos que moramos em SP em função do meu trabalho, nos “querenciamos” na histórica praia de Itanhaém, então ainda pequena cidade eivada de história, onde os primeiros Jesuítas tinham sua base e segundo consta, onde o Padre Anchieta escreveu o poema na areia, famoso e citado até hoje em dia. Brinquei nas ondas, exaustivamente, e com alegria, na infância de todos meus três filhos e os 3 netos mais velhos dos 5 que tivemos. E considero isto um privilégio e uma sagrada e querida recordação como pai e avô.

(Luiz Carlos Sanfelice – advogado jubilado, auditor – lcsanfelice@gmail.com)

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