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Colunistas Lembranças que ficaram (51): o fantasma deu um tiro no pé… do ladrão

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Ijuí, é hoje uma expressiva cidade no Noroeste do RS, cuja colônia foi fundada 1890 e emancipada como município em 1912. (Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

OBS.: Não esperava a reação que teve. Reconsiderei. Continuarei escrevendo.

A irmã mais velha do meu pai se chamava Maria Sanfelice, e casou com o Pedro Kossa, que lá por volta de 1937 se mudaram da Linha 11 em Ijuí para a simpática cidade de Castro no Paraná, onde bem viviam e criaram seu único filho Oswaldo (o Oswaldinho) que nascera em Ijuí.

Ijuí, é hoje uma expressiva cidade no Noroeste do RS, cuja colônia foi fundada 1890 e emancipada como município em 1912 – mesmo ano que o Titanic afundou – e tem, pois, apenas 134 anos de idade. Sua situação geográfica é entre Cruz Alta, que já existe desde meados de 1700, e de Santo Ângelo, um dos 7 Povos das Missões. Ambas se desenvolveram e se “criaram” em campo aberto. Santo Ângelo era a mais distante povoação jesuítica contando da margem do rio Uruguai, pois os Padres vinham pelo rio, desde Mar del Plata, e Cruz Alta porque era ‘caminho’ dos tropeiros em direção a Vacaria e daí para SP. Entre as duas existia uma densa e impenetrável floresta. Imagina que para ir de uma à outra, naquele tempo, conta-se que eram de 8 a 10 dias de mula ou carreta de boi, contornando a floresta. Por isso então a região destinada a ser o município de Ijuí foi toda planejada. Primeiro abriram uma Picada, a facão e machado, e depois esquadrinharam toda região, de mil em mil metros, em “linhas” verticais (de norte a sul) e horizontais (de leste a oeste) e para a sede central traçaram uma ‘cidade’ em quadras de 100 x 100m com ruas de 20m de largura. E para sua ocupação incentivaram fortemente que os imigrantes europeus para lá se instalassem como colonos, produtores e comerciantes. E foi o que aconteceu. Mais de 15 etnias tem hoje lá seus descendentes. Foi onde o alemão aprendeu a comer macarrão, fazer polenta e tomar sopa de cappelletti e os italianos a fazer cuca, preparar chucrute e gostar de eisbein.

Assim que ao Oswaldinho chegou a idade do serviço militar teve que se apresentar na sua cidade de nascimento e em 1947 servir no que era então o 7º GACAV 75 (Grupo de Artilharia a Cavalo 75). Hoje é o 7º Grupo de Artilharia de Campanha 125, onde, não há muito tempo, o ex-vice-presidente e atual Senador General Mourão, então ainda Tenente Coronel, foi Comandante. Tendo que prestar o serviço militar e sendo o único filho, o tio Pedro e tia Maria, mudaram de volta para Ijuí e foram morar na esquina das ruas 20deSetembro com a 7 de Setembro, e onde no que seria sala da casa, o tio Pedro instalou uma loja com nome de “Casa das Sedas”. Ele não era rico ‘mas estava bem na foto’ e conhecia o negócio. Quando tio Pedro tinha que, eventualmente, viajar, eu ia dormir lá, para tia Maria não ficar sozinha, já que o filho era Soldado Arranchado (quer dizer: tinha que morar no quartel). Numa dessas ocasiões, eu tendo de 7 para 8 anos, dormia serenamente o sono dos inocentes quando de repente sou acordado por um estrondo. Isso foi por volta da meia-noite. Me acordo levanto e corro pro quarto da tia e vejo ela em pé ao lado cama, de .38 na mão e ainda ouvi o barulho de alguém se escafedendo de dentro da casa. O-que-foi-o-que-não-foi, ela me contou que dormindo, se acordou, com uns barulhinhos dentro de casa, levantou de camisola (branca até os pés), pegou do guarda-roupas seu .38 e ficou em pé, dentro do quarto, na penumbra da noite apontando para porta de duas folhas (casa antiga) esperando. Dali a pouco levemente o trinco foi baixando e “o cara” abriu a porta e deu de cara com aquele ‘fantasma’ e da mão do fantasma sai um tiro para o chão (que era de madeira). Nossa mãe!!! “o cara” deu grito, (não sei se não se borrou) saltou pra trás e sai correndo, rebentando a porta de um birô que deixara aberta, joga-se por cima do balcão da loja, cai, levanta e corre pra calçada e some noite a dentro. Não presenciei a cena, mas até hoje passados mais de 75 anos, sorrio imaginando o susto que “o cara” levou: abre a porta e dá de cara com um fantasma e “leva” um tiro. Óbvio que não era pra acertar, não o primeiro claro, mas não precisou do segundo. Ânimos serenados, voltamos a dormir… Se as tábuas do assoalho não foram trocadas, até hoje (2024) o furo da bala deve estar lá. Claro que a cidade ficou sabendo e acho que daí pra frente a tia Maria poderia dormir de portas destrancadas e janelas abertas, tranquilamente.

Terminado o serviço militar do filho, lá por volta de 1949, eles mudaram de volta pra Castro onde viveram seu tempo de vida.

(Luiz Carlos Sanfelice, advogado jubilado, auditor – lcsanfelice@gmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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