Quarta-feira, 01 de janeiro de 2025
Por Luiz Carlos Sanfelice | 7 de fevereiro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Vilmar Antônio nasceu em 1940 bem no meio da colônia, num entroncamento de duas estradinhas no local chamado Linha 11, perto do Faxinal, em Ijuí. Vilmar Antônio teve 3 irmãos bem mais velhos e 3 irmãos bem mais novos. Ninguém de sua faixa etária para brincar. Desde muito pequeno chamou atenção sua prodigiosa inteligência que revelou um Q.I. acima de 140 e talvez por isso, teve uma vida tão marcada por eventos trágicos.
Seus 2 irmãos mais velhos foram para o Seminário (nenhum virou padre) e sua irmã, foi para o Internato. Aos 8 anos a família mudou para cidade. Super inteligente, criou seu próprio universo. Aconteceu que seu 2º irmão, no Seminário, montando bombinhas comemorativas, sem querer, provoca a explosão de um monte de pólvora que estava sobre uma mesa. Quase morreu, entrou em coma, ficou cego de um olho, perdeu metade do braço esquerdo e teve que fazer inúmeros enxertos de pele. Vilmar Antônio passou ‘o cão’ com o sofrimento dos pais e o longo período de tratamento do irmão, pois toda atenção era focada no acidentado e nas crianças mais novas. Moravam em Ijuí e o irmão no Hospital em Santa Maria. Passados poucos anos, numa sexta-feira Santa, na volta da Igreja, ele ‘pega’ carona com seu tio, e ao cruzarem a via férrea, a caminhoneta é colhida pelo trem e justo o Vilmar Antônio é o mais afetado quebrando a clavícula de forma de difícil fixação. Requereu cirurgias.
No Ginásio sua super inteligência o tornava ansioso perante os colegas ‘normais’. Ele queria mais. Ansioso, decidiu decorar o poema “I Juca Pirama” de Gonçalves Dias. O poema inteiro é quase um livro de tão longo. Nem sei quantas páginas. Pois ‘a fera’ decorou tudo e até hoje, aos 84 anos, ainda declama. Incrível. Chamá-lo para declamar era motivo de exibição do Diretor, em eventos do Colégio e isso tornou-se um calvário. Vilmar Antônio fez o 1º ano Científico e ‘cansou’ de estar em aula. Aos 18 anos mudou para Porto Alegre e ficou morando na casa da sua irmã e eu era o seu amigo. Um dia, cansado do inútil, ele resolveu ‘tomar um fogo’ e me pediu para acompanhá-lo e ‘levá-lo pra casa’. Foi um ‘escândalo’ de porre. Quase morreu mas, surpreendentemente, definiu sua vida e lhe deu um rumo….
Dois ou 3 dias depois me procurou e disse: “vou arrumar um emprego” E usando seus mais de 140 de QI fez uma entrevista. Foi bem. Chamaram-no para uma 2ª entrevista, foi melhor ainda. O emprego era em Porto Alegre, mas decidiram aproveitá-lo na matriz brasileira em SP. E foi. A empresa era a sempre prestigiada e poderosa SIEMENS. A sede da SIEMENS era no Edifício Andraus. Vai que um dia, até hoje sempre lembrado, a tragédia acontece. O Andraus, edifício com 115 metros de altura, e 32 andares, pega fogo e o prédio inteiro queima. O Vilmar Antônio estava lá trabalhando. Ele estava entre os que subiram e foram para o teto. Lá o vento, a fumaça, o calor, o desespero e o ‘salve-se quem puder’ dominavam o pânico. “Tinha que ser comigo” pensou ele. Isto dificultava qualquer helicóptero pousar, mas pousou, e num desses pousos malucos, Vilmar Antônio embarcou e, milagrosamente, se salvou. Morreram 16 pessoas e 320 ficaram, seriamente, queimadas, feridas ou intoxicadas.
Seus 140 de QI fizeram-no crescer, foi para Alemanha, aprendeu administrar, aprendeu alemão, voltou, casou, constitui família, mas não deu certo, separou, e viu, de novo, sua vida desmoronar. Transferiram-no para BH, onde serenou, casou de novo, quando, repentinamente, é chamado para o enterro de seu pai que, aos 60 anos de idade, fora vítima de estúpida ‘barbeiragem’ do médico em um simples procedimento. Mais uma ‘paulada’.
Saiu da SIEMENS, voltou para o RS, comprou um Posto de Gasolina que criou fama, em Sapucaia, onde foi até pouco tempo dono do conhecido Posto Tigrão, na BR-116. Inteligente e dinâmico, foi eleito Presidente da Associação Comercial e Industrial de Sapucaia do Sul. Então, seu irmão mais velho, Promotor de Justiça, Deputado Estadual por 3 Legislaturas e agora o “Procurador Geral de Justiça do RS”, tem um trágico fim. Com menos de 60 anos sua vida é extinta. Vilmar Antônio, além de irmão era próximo e muito amigo, e assim mais um evento doloroso o atinge.
Poucos anos depois, tudo indo bem e em paz, de repente seu filho mais velho se vê envolvido em dramático acontecimento social e gera uma sofrida e dolorosa temporada de dor, ansiedade e infinitos gastos que ‘se derrama’ sobre a cabeça do já marcado Vilmar Antônio. “Que vida!!!” “Até quando meu Deus”? Mas mesmo tendo sofrido tantos golpes materiais, físicos e emocionais, paulatinamente, foi processando, dia a dia, o ajuste emocional e se superou. Vive agora na linda João Pessoa-PB, na beira-mar, feliz da vida aos 84 anos, ao lado de Maria José, sua esposa, amiga e companheira, autêntica mineira que soube com inteligência e sabedoria, conduzir a casa e apoiar o marido. Vilmar leva consigo o consolo, a honra e a distinção de ver seu pai ser nome de rua na cidade natal e seu irmão ser nome de rua em Porto Alegre. Uma vida marcada.
Na próxima edição de LEMBRANÇAS QUE FICARAM 9 contarei a história do acordo Chimangos x Maragatos e “POR QUE ALTO DA UNIÃO?”
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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