Ciclos abusivos, manipulação, culpa, vícios e isolamento são repetições comuns na fase adulta, muitas vezes originadas na infância. No livro “A culpa não é sua”, publicado no Brasil pela Latitude, a autora canadense e especialista em impactos causados por traumas, Laura K. Connell, combina a experiência pessoal com pesquisas científicas para auxiliar o leitor a identificar pessoas tóxicas e saber como impor limites em diferentes situações do cotidiano – associadas a amizades, relacionamentos amorosos, trabalho e família.
Desde criança, a autora sentia que havia algo de errado, que a impedia de aproveitar o sucesso, o amor e a aceitação que os outros desfrutavam. Esse sentimento gerou diversos traumas na fase adulta e, até mesmo, a levou ao alcoolismo. Somente após anos de acompanhamento psicológico, Connell compreendeu que o abuso emocional e a negligência sofridos na infância eram fruto de uma dinâmica familiar disfuncional. Isso envolvia pais incapazes de lidar com as próprias questões internas e reforçavam um ciclo de violência e abandono.
Segundo a especialista, indivíduos tóxicos também estão feridos, mas por não saberem administrar as próprias emoções, acabam machucando aqueles com quem se relacionam. Geralmente, essas pessoas apresentam alguns sinais de alerta: intolerância a vulnerabilidade do próximo; as próprias necessidades vêm em primeiro lugar; são manipuladoras; exigem confiança sem fazer por onde merecer e fazem críticas destrutivas, ao deixar implícito que não importa o que o outro faça, pois nunca será bom o suficiente.
Leia a seguir um trecho do livro: “A maioria das pessoas que cresceu em lares disfuncionais passou a vida duvidando da própria intuição. Isso ocorre porque elas foram ensinadas a calar essa voz e, em vez disso, a obedecer às ordens dos cuidadores. Aprenda a ouvir essa voz dentro de você e leve a sério os seus pressentimentos […] esquivar-se só vai piorar as coisas e permitir que pessoas desonestas tenham mais chances de enganar você. [A culpa não é sua, p. 66].”
Laura K. Connell explica que o primeiro passo para romper esses ciclos disfuncionais é estabelecer limites saudáveis. Ou seja, significa deixar claro o que sente, aprender a dizer “não” quando for preciso, parar de querer agradar a todos, entender seus valores, limitar o contato com pessoas problemáticas e, até mesmo, quando necessário, romper de vez esses vínculos que desgastam psicologicamente.
Por meio de uma conversa sensível e inspiradora, com lições e experiências pessoais que aprendeu na terapia, a especialista ensina os leitores a desenvolverem mecanismos de defesas saudáveis a fim de alcançar a liberdade emocional. A autora aborda ainda temas como o vício em amor, perdão, isolamento e apego sentimental. Mais do que um livro, A culpa não é sua oferece as ferramentas necessárias para evitar a autossabotagem, curar a criança interior ferida e atingir uma vida mais plena e autêntica.