Terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Por Dad Squarisi | 18 de abril de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Você assistiu à coletiva de imprensa de terça no Palácio do Planalto? Então viu Onyx Lorenzoni dar aula de adulação. Ao lado do ministro Luiz Mandetta, rasgou seda para o presidente Jair Bolsonaro. De graça, sem ser chamado, desqualificou o colega e endossou as teses do dono da caneta BIC. Os presentes não deixaram por menos. Chamaram-no de subserviente, bajulador, capacho, lambe-bota. Em bom português: puxa-saco.
Pintou, então, a curiosidade. Qual a origem da palavra? Ela veio ao mundo da gíria militar. Em tempos idos e vividos, os oficiais em viagem levavam sacos de roupas que os ordenanças carregavam sem reclamar. Em 1946, uma marchinha de carnaval popularizou a expressão. Os foliões cantavam Brasil afora “o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais”. A partir daí, puxa-saco deixou pra trás a origem e ganhou nova conotação. Ganhou, também, familiares. Entre eles, puxação, puxança, puxada, puxa-saquismo.
Time
Puxa-saco joga no time de guarda-roupa, para-choque, arranha-céu, beija-flor, vira-lata, caça-níquel. Só o substantivo vai para o plural: puxa-sacos, guarda-roupas, para-choques, arranha-céus, beija-flores, vira-latas, caça-níqueis.
O lambe-bota da língua
Acredite: o verbo não tem jeito. É um grande bajulador. O sujeito é o objeto do paparico. Aonde o adulado vai, o puxa-saco vai atrás. O servilismo se chama concordância verbal. Seu 1º mandamento: o verbo concorda em pessoa e número com o sujeito.
Trocando em miúdos: se o sujeito estiver no singular, o verbo também estará. Se no plural, o verbo o seguirá. Afinal, ele é incorrigível lambe-bota: eu danço, ele dança, nós dançamos, eles dançam.
Enrascada
Às vezes, a concordância apresenta complicações. Uma delas refere-se aos núcleos ligados por ou…ou. Aí, pare. Depois, pense. Por fim, decida-se por uma das três possibilidades – exclusão, inclusão e retificação.
Exclusão
Se a conjunção ou indicar exclusão, o verbo vai para o singular: Ou Carlos ou João será presidente do clube. (Entendeu? Há uma só vaga de presidente. A vitória de um exclui o outro.)
Inclusão
Se ou indicar inclusão, o verbo vai para o plural: Casamento ou divórcio são regulados por lei. Um ou outro apareceram na festa. Com o isolamento, um ou outro apresentarão sintomas da covic-19.
Retificação
Se ou indicar retificação, o verbo concorda com o núcleo mais próximo: Ele ou eu redigirei o documento. Eu ou ele redigirá o documento. Os autores ou autor da melhor reportagem receberá o prêmio. O autor ou autores da melhor reportagem receberão o prêmio.
É isso. O diabo é feio. Mas nem tanto.
Leitor pergunta
A covid-19 é doença infectocontagiosa? Ou infecto-contagiosa? — Lúcia Andrade, Boa Vista.
A covid-19 joga no time de varíola, pólio, cólera, sarampo & cia. Todas são doenças infectocontagiosas. Assim mesmo: tudo colado. Sem hífen.
Hipertensão é pressão alta. Que nome se dá à pressão baixa? — Celina Albuquerque, Guarujá.
O contrário de hiper? É hipo. Hipertensão é pressão alta. Hipotensão, pressão baixa. Hiperativa é a criatura pra lá de ativa. Hipoativo, devagar quase parando.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.