Conhecido pela qualidade de sua gastronomia, o Japão tem outro motivo para se orgulhar. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o japonês vive em média 84 anos, número que faz da Terra do Sol Nascente o país com a mais elevada expectativa de vida do mundo.
É um feito e tanto para uma nação que, dois anos após a Segunda Guerra Mundial, tinha uma expectativa de vida cravada em 50 anos para homens e em 57 para mulheres. Com índices tão modestos, como o país conseguiu ampliar tanto a longevidade?
“A esperança de vida ao nascer aumentou rapidamente na década de 1950 e início da década de 1960 como resultado da diminuição da mortalidade por doenças infecciosas em crianças e jovens adultos. Isso aconteceu em grande parte por conta do papel do governo na saúde pública”, explicou Nayu Ikeda, do Instituto Nacional de Saúde e Nutrição japonês.
Para ilustrar a preocupação do governo com a saúde, Ikeda disse que, no pós-guerra, 32 leis foram promulgadas para contemplar o setor. Além disso, após meados dos anos 1960, a redução da mortalidade por AVC (acidente vascular cerebral) teve uma contribuição relevante para aumentar a longevidade do país. Isso aconteceu graças a campanhas de redução do consumo de sal e à oferta de remédios para pressão na rede de saúde.
A universalização do sistema médico, diz ela, também teve papel fundamental no processo, já que tornou igualitária a oferta de saúde. Ampliar o acesso à medicina, aliás, é algo que ela sugere a qualquer país que queira ampliar a longevidade.
“Os objetivos de um sistema de saúde incluem não apenas a melhoria dos indicadores, mas também a redução das desigualdades na saúde. Com isso, os países poderiam alcançar o que o Japão alcançou”, defendeu.
Estilo de vida
Lira Terada, de 79 anos, conhece bem um dos pilares da longevidade nipônica – a filosofia de vida. Filha de imigrantes japoneses, sem saber ela cresceu em meio a preceitos do budismo. “Meu pai e minha mãe eram budistas. Só depois que eu cresci fui saber do que se tratava. Mas o nosso lema era “viver hoje intensamente, porque o amanhã é outro dia.”
Para ela, disciplina é uma palavra bastante presente no cotidiano japonês, algo que vê de forma positiva. “A vida tem de ser disciplinada. Não acho a comodidade do dia a dia algo bom. Eu faço pilates há dois anos e sinto uma diferença incrível. Essas coisas são muito importantes. O cotidiano deve ser inspirado no bem-estar da gente”, disse ela, que toda quinta-feira prepara sushis em um restaurante no Rio de Janeiro.
Razão de viver
O gosto de Lira por uma rotina cheia de atividades pode ser visto como aquilo que os japoneses chamam de “ikigai”, ou seja, a razão de viver de cada um, conceito fundamental para eles. “É aquela motivação especial que nos ajuda a levantar da cama todos os dias para viver mais um dia”, definiu o escritor espanhol Francesc Miralles, coautor do livro Ikigai: o segredo dos japoneses para uma vida longa e feliz (Intrínseca).
De acordo com ele, essa filosofia faz com que a vida passe a ter sentido e valor, qualidades que estimulam um cuidado maior com o corpo e com a mente. Já na hora de comer, afirmou o espanhol, os japoneses seguem outra filosofia: “A maioria deles come de acordo com a lei hara hachi bu, a qual pode ser traduzida como “estômago 80% cheio. Eles sempre comem um pouco menos do que a fome que sentem”.
Peixe e vegetais
Nutricionista especializada em terceira idade, Karina Timpani explica que a dieta japonesa é um fator importante para explicar os altos índices centenários do país — são quase 70 mil. Na mesa deles, é possível encontrar vegetais, arroz e cereais. Como não poderia deixar de ser, o peixe também tem lugar especial nos lares japoneses, o que não se observa tanto no Brasil, segundo a nutricionista.
“Considero a alimentação japonesa muito equilibrada e rica em nutrientes. Eles também têm um estilo de vida que contribui para a longevidade que o país vive hoje”, avaliou Karina.