Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2019
A cada contato espiado outros inúmeros apareciam para a lista de telefones extraídos de maneira ilegal pelo hacker de Araraquara, Walter Delgatti Neto, o Vermelho, apontado pela PF (Polícia Federal) como a cabeça pensante em toda a organização criminosa presa nesta semana na Operação Spoofing.
Ele já admitiu em depoimentos aos agentes federais ter sido o único responsável por descobrir como ter acesso a conta do Telegram de centenas de milhares de pessoas em todo o Brasil. E, atrás do computador, por curiosidade, passou a ter também telefones de famosos sem que eles tivessem conhecimento.
Em conversa com uma pessoa de Araraquara, iniciada no dia 15 de junho e avançada no dia 16, em que a fonte acreditava ser uma brincadeira de Vermelho [conhecido por buscar sempre contar uma história a mais], além dele sugerir a invasão ao celular do ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, e de propor a venda de um conteúdo extra contra os procuradores da Lava-Jato a ser oferecido a membros do Partido dos Trabalhadores, ele também diz ter contatos de artistas.
Em meio ao bate-papo desconexo, em que um pergunta algo e outro responde apenas o que lhe convém, a pessoa de Araraquara garante ter perguntado ironizando: “Pega de algum artista pra gente pegar número dele”. Um minuto depois, Vermelho responde “Vou te mandar”.
“Pedro Bial”. E já avisa: “Tem todo mundo”. “Toma”. E envia um arquivo em PDF que seria a agenda do jornalista e apresentador Pedro Bial [adquirida ilegalmente e sem conhecimento de Bial]. O colega via mensagem aparentemente assusta: “Aff Vc não é gente”.
O bate-papo prossegue o colega de Araraquara pergunta se tem mais gente e sugere dois nomes: Eliana e Patrícia Abravanel. Ele diz que não tem, mas vai pegar [no entanto, não responde se conseguiu]. O interlocutor pergunta sobre Neymar. Vermelho responde imediatamente: “Hahahaha tenho da Europa”. O amigo pede: “Manda”. Logo depois, a surpresa: ele envia os contatos obtidos irregularmente com o que seriam os números dos telefones celulares do jogador do PSG e da Seleção Brasileira, Neymar Junior. E avisa: o telefone do Brasil e da Europa.
Em seguida, envia uma imagem com alguns nomes da sua lista telefônica ilegal, entre eles, Galvão B, que seria o narrador esportivo Galvão Bueno, da TV Globo. Durante as conversas, Walter Delgatti Neto, o Vermelho ainda manda uma série de fotos, talvez, fotos que fez com seu próprio celular e envia aos montes.
Ali, o nome e os telefones de algumas outras pessoas que nunca falaram com ele, entre elas, o jornalista e apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, o comentarista esportivo Casagrande e o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem teto), Guilherme Boulos (PSOL).
Na conversa, Vermelho não diz se invadiu a conta de todas essas pessoas, apenas envia as imagens dos números adquiridos de outros lugares sem nunca ter conversado com qualquer uma das pessoas que tiveram a sua privacidade invadida.
O que ele mostra, no entanto, são as agendas de Pedro Bial e do ator Gregório Duvivier, que ficou conhecido pelo seu trabalho no cinema e no teatro e por ser um dos criadores dos esquetes da série Porta dos Fundos. De Duvivier, Vermelho vasculhou, pegou fotos e elogiou: “esse Gregório tem todo mundo.”
As ligações
A PF já revelou que foram feitas 5.616 ligações para acessar Telegram de autoridades. E o próprio Vermelho admitiu em seu primeiro depoimento dado aos agentes federais que todos os contatos ocorreram entre março e maio deste ano e só armazenou o conteúdo das contas de Telegram dos membros da Lava-Jato do Paraná, pois teria constatado atos ilícitos nas conversas registradas [tanto que, posteriormente, reativou seu Twitter e passou a fazer campanha sobre o tema].