Domingo, 13 de abril de 2025
Por Edson Bündchen | 10 de abril de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O aumento expressivo das tarifas comerciais anunciado pelo governo dos Estados Unidos sob a justificativa de redução de déficits e reindustrialização do país reacende um debate antigo sobre os efeitos das barreiras ao comércio. A história econômica já demonstrou repetidamente que o protecionismo não só falha em cumprir seus objetivos, como também impõe custos elevados à economia global.
A abordagem tarifária dos EUA se encaixa em duas interpretações distintas. A primeira, baseada numa estratégia agressiva de negociação, sugere que a imposição de tarifas elevadas seria um ponto de partida para eventuais barganhas, forçando outros países a aceitarem termos mais favoráveis. A segunda visão, de caráter mais estrutural, remete a políticas mercantilistas, buscando trazer de volta indústrias para os Estados Unidos, ainda que à custa de ineficiências e aumento de preços. O problema central dessa estratégia está no fato de que, ao tentar reverter décadas de especialização produtiva e cadeias globais de suprimentos, o impacto sobre a economia mundial tende a ser recessivo e inflacionário.
Ao longo do tempo, políticas protecionistas foram implementadas em diferentes momentos da história, sempre resultando em distorções e impactos negativos para o crescimento econômico. O exemplo mais notório foi a Lei Smoot-Hawley, de 1930, nos Estados Unidos. Criada para proteger a indústria doméstica e reduzir o desemprego durante a Grande Depressão, a medida gerou retaliações em larga escala. O comércio global desabou e, em vez de recuperar a economia americana, as tarifas aprofundaram a recessão.
Outro caso relevante foi o Japão do pós-guerra. Na década de 1970, sob pressão da indústria automobilística americana, o governo dos EUA impôs cotas à importação de carros japoneses. A medida gerou aumento de preços para os consumidores americanos, sem ganhos significativos para a competitividade da indústria local. Empresas japonesas, em resposta, investiram em fábricas nos EUA, contornando as barreiras comerciais sem reverter a tendência de perda de competitividade da indústria americana.
Além disso, a imposição de tarifas reduz a competitividade de setores que dependem de insumos importados. Por exemplo, a indústria americana de tecnologia, altamente dependente de semicondutores e outros componentes produzidos na Ásia, enfrentará custos mais altos, diminuindo sua capacidade de inovação e crescimento.
O mercado financeiro já reflete a percepção dos investidores sobre os impactos negativos dessa guerra comercial. A queda dos preços do petróleo, a volatilidade do dólar e a retração nas bolsas indicam uma preocupação generalizada com a desaceleração econômica global. Se o cenário de retração se confirmar, os EUA podem se ver em uma posição paradoxal: tentando estimular o crescimento enquanto suas próprias políticas dificultam esse objetivo.
O Brasil, apesar de ter ficado fora do grupo mais afetado pelas tarifas, deve ficar atento. A China, nosso maior parceiro comercial, sofreu um impacto significativo, o que pode resultar numa grande oferta de produtos chineses por aqui. Se a economia global desacelerar, a demanda por produtos brasileiros também tende a cair, afetando setores-chave como agronegócio e mineração. O Brasil ainda enfrenta desafios internos, como a necessidade de um ajuste fiscal e a pressão da demanda agregada sobre os preços. Portanto, mesmo que os efeitos iniciais sejam administráveis, o cenário geral de menor crescimento global pode pesar contra a economia brasileira no médio prazo.
Em síntese, se a estratégia americana for além de uma tática negocial e se consolidar como uma mudança estrutural, os impactos serão profundos. O, mundo, nessa perspectiva, caminharia para um ambiente econômico mais fragmentado e hostil, onde a cooperação internacional cederia espaço ao isolacionismo protecionista. O saldo final de uma guerra comercial nunca é positivo — e a história econômica tem muitas lições a oferecer para quem estiver disposto a aprender.
(edsonbundchen@hotmail.com)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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