No recém-publicado “Fire and Fury: Inside the Trump White House (“Fogo e Fúria: Por Dentro da Casa Branca de Donald Trump), os relatos coletados pelo jornalista Michael Wolff retratam o presidente dos Estados Unidos como uma figura solitária, com poucos verdadeiros apoiadores e ainda menos amigos. Inclusive dentro da própria família.
Funcionários como o ex-assessor Steven Bannon relatam, no livro, que ninguém – nem mesmo o próprio líder republicano – acreditava que ele pudesse ganhar a eleição presidencial, e como, mesmo após a vitória sobre a senadora Hillary Clinton, todos em torno dele o tratavam como uma espécie de “criança incompetente”.
A biografia não autorizada sobre o governo de Trump traz revelações sobre um aspecto da vida do presidente do qual pouco se falou, até então: como fontes internas da Casa Branca percebem as relações familiares do polêmico bilionário e homem mais poderoso do mundo na atualidade.
Wolff descreve que funcionários da equipe de campanha do presidente se surpreendiam ao ver que ele e a esposa, Melania, podiam ficar dias sem ter contato, passando relativamente pouco tempo juntos, mesmo quando ambos estavam na Trump Tower, antes de se mudarem para a Casa Branca.
“O casamento de Trump era desconcertante para a maioria das pessoas em torno dele”, escreve Wolff, segundo qual o casal adotou para seu relacionamento uma atitude de “viver e deixar viver”. Segundo relatos, o presidente costuma chamar Melania de “esposa troféu”, até na presença dela. E Melania chorou na noite da eleição, pois se tornar primeira-dama “ia destruir sua vida cuidadosamente protegida”.
“Pai ausente”
Fire and fury: Inside the Trump White House (Fogo e fúria: Por dentro da Casa Branca de Trump) apresenta uma imagem ainda pior da relação do presidente com os filhos: “Um pai ausente para os primeiros quatro filhos, Trump foi assim ainda mais com o quinto, Barron, fruto de sua relação com Melania.”
Não há menção a Tiffany, filha de Trump com a segunda esposa, Marla Maples. E os outros dois filhos mais velhos são retratados como figuras cômicas. “Don Jr., 39 anos, e Eric, 33 anos, mantiveram um relacionamento forçado e infantil com o pai, papel que os envergonhava mas que eles também abraçaram profissionalmente”, revelam as páginas.
De acordo com as fontes a que Wolff teve acesso, Donald John Jr. e Eric, filhos de Trump com a primeira esposa, Ivana, cultivavam a esperança de ter um envolvimento tão próximo quanto o da irmã Ivanka no governo do pai.
Don Jr. e Eric – que insiders do governo Trump chamam pelas costas de “Uday” e “Qusay”, em referência aos filhos do falecido ex-ditador iraquiano Saddam Hussein – imaginavam se não poderia, de alguma maneira, haver duas estruturas paralelas na Casa Branca: uma dedicada às visões globais do pai (bem como à sua aparência pessoal e à sua arte de comercializar) e outra dedicada a questões administrativas do dia a dia.”
Os dois acabaram se tornando objetos de ridicularização – não apenas devido ao encontro de Don Jr. com um advogado russo na Trump Tower, em 2016, atitude que Bannon classificou de “traidora” em uma entrevista concedida a Wolff.
Relação de negócios
Sobre Ivanka, em geral considerada a filha inteligente e favorita de Trump, Wolff escreve que o relacionamento entre os dois não é de maneira alguma uma relação familiar convencional: “Se não era puro oportunismo, era certamente transacional. Eram negócios. Construir a marca, a campanha presidencial e agora a Casa Branca. tudo eram negócios”.
De acordo com o jornalista Joe Scarborough, que conhece bem Ivanka e o marido, Jared Kushner, o casal tem um carinho pelo presidente. Mas também se mantém a uma “distância segura” de seus posicionamentos e declarações extravagantes. “Eles demonstram certa tolerância, mas poucas ilusões”, garante Wolff.