Domingo, 29 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 7 de janeiro de 2018
Donald Trump veio a público para, pela primeira vez desde que chegou à Casa Branca, rebater questionamentos sobre sua sanidade. Em resposta a um novo livro que levanta dúvidas sobre sua capacidade de exercer o cargo, o presidente dos EUA dedicou parte deste sábado (06) a afirmar em redes sociais e em um pronunciamento que é um “gênio” e está “mentalmente estável”.
Lançado na véspera e já um best-seller, “Fire and Fury” (fogo e fúria, em tradução literal) traz relatos de assessores que descrevem Trump como inseguro, errático e desinformado, além de tornar públicas críticas de membros do gabinete ao líder, provocando grande repercussão.
A suspeita de incapacidade mental do presidente, que é descrito pelo autor Michael Wolff como uma “criança que não consegue ligar os pontos”, abre caminho para um debate sobre a permanência de Trump no governo.
A 25ª emenda da Constituição prevê que um presidente possa ser removido se considerado incapaz de cumprir os deveres do cargo. O dispositivo foi criado após o assassinato de John Kennedy, em 1963, ante o risco de incapacitação permanente do líder.
O debate emergiu em outros momentos do governo Trump por causa de declarações impulsivas – como ameaçar iniciar uma guerra nuclear com a Coreia do Norte na semana passada – e ganhou força com o livro de Wolff. O autor, que afirma ter realizado cerca de 200 entrevistas com conselheiros próximos do republicano, descreve Trump como semianalfabeto, incapaz de prestar atenção num assunto por mais de poucos minutos nem de relacionar causa e consequência.
A obra, porém, não cita um episódio específico em que a capacidade mental do republicano esteja em xeque, e sim descreve momentos de fúria, impulsividade e desprezo à opinião alheia. Wolff disse à rede BBC que o livro ajudaria a “derrubar Trump”.
Risco
“Fui às melhores universidades, fui excelente aluno, ganhei bilhões e bilhões de dólares e obtive tremendo sucesso”, afirmou o presidente à imprensa neste sábado. “Aí vem esse cara, que não me conhece, não me entrevistou. [O livro] é obra de ficção.” A Casa Branca chamou “Fire and Fury” de “risível” e desacreditou o autor, criticado em trabalhos anteriores. Mas a saúde mental de Trump já esteve sob o escrutínio de outros profissionais.
Em outubro, um grupo de 27 psiquiatras e psicólogos lançou um livro segundo o qual a sanidade de Trump é uma “ameaça real à nação”, citando traços como impulsividade, hedonismo, paranoia e narcisismo patológico. “Uma mistura letal”, escreve o psicólogo Craig Malkin.
A obra fere a “regra de Goldwater”, criada pela Associação Americana de Psiquiatria em 1973 depois que o republicano Barry Goldwater, que queria ser presidente, derrotou na Justiça profissionais que afirmaram à imprensa que ele era inapto. A entidade então proibiu que diagnósticos fossem tornados públicos sem exame pessoal ou autorização.
O grupo, que não examinou o presidente, alega, porém, que tem o “dever de alertar o país”. A psiquiatra Bandy Lee, organizadora da obra, se reuniu em dezembro com políticos democratas, suscitando especulações sobre a possibilidade de o Congresso debater a 25ª emenda. Para a emenda ser evocada, a avaliação deve ser feita pelo vice-presidente e pelo gabinete ou por uma comissão indicada pelo Congresso com especialistas médicos.
Se o presidente se opuser, o Congresso tem três semanas para votar o afastamento, que precisa ser aprovado por dois terços – algo difícil com a atual maioria republicana, mas que pode mudar nas legislativas de novembro.