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Livro sobre a Polícia Federal revela as disputas e transformações históricas da corporação

Inicialmente, os presidenciáveis seriam acompanhados por equipes de policiais a partir do início oficial da campanha. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

As megaoperações ascenderam a Polícia Federal a símbolo do combate à corrupção no Brasil, com as mais de 70 fases desdobradas da Lava-Jato na história recente. Televisionadas, as cenas de agentes batendo à porta de empresários e políticos do primeiro escalão, como o ex-presidente Lula e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, ficaram no imaginário popular. Mas a história dessa instituição de quase 80 anos é marcada por altos e baixos, seja no aspecto financeiro, tendo chegado à beira da falência com parcos investimentos, ou sob a ótica política, numa trajetória de luta por protagonismo e independência.

No livro “Polícia Federal – Como a PF se transformou numa das instituições mais respeitadas do país e as disputas por seu controle”, lançado no último dia 15 pela editora Máquina de Livros, o jornalista e agente penitenciário Anderson Sanchez descreve a história da instituição a partir do olhar de personagens que viveram as disputas políticas e crises internas do órgão. Com relatos horripilantes sobre episódios de tortura e morte nas carceragens da PF, Sanchez revela figuras centrais que trabalharam para deixar no passado um tempo em que a corporação foi aliada da ditadura militar. Essas personalidades atuaram para implementar práticas que alteraram paradigmas de como conduzir uma investigação policial no Brasil.

Ao tentar resumir uma história de décadas em 212 páginas, o autor aponta os frequentes questionamentos sobre a espetacularização das operações — como na Hashtag, em julho de 2016, contra suposta célula terrorista no Rio às vésperas das Olimpíadas — e as tentativas de interferência política nessa instituição, que, ainda assim, chegou ao status de uma das mais respeitadas do país.

Primeiro diretor civil no comando da Federal, Romeu Tuma surge como uma das figuras centrais da narrativa. Foi ele que planejou a Operação Ianomâmi, em Roraima, em 1990, para expulsar 45 mil garimpeiros que extraíam ouro de terras indígenas. Acusado pelo então governador de montar um “circo”, Tuma é consagrado quando chega ao aeroporto de Boa Vista, aplaudido por mais de 10 mil pessoas, pelo resultado da ação: a saída dos garimpeiros foi negociada e nenhum tiro foi disparado. Com a exposição na mídia pelo trabalho, Tuma recebe o apelido de “Xerife do Brasil”.

Antes da implementação de um novo modelo de investigação, Sanchez descreve como a PF não era prioridade do governo até o fim dos anos 1990. O órgão viveu anos no vermelho, sem investimentos e em completo caos financeiro. Agentes chegavam a bancar o combustível das viaturas e pendurar as contas de manutenção dos carros com mecânicos locais.

Na obra, é possível entender a transição, quando o foco da PF no combate ao contrabando na década de 1960 e ao tráfico de drogas nos anos seguintes é ampliado para contemplar crimes financeiros e corrupção no início dos anos 2000. O autor ainda mostra como a figura de Paulo Lacerda, que ocupou diversos cargos na instituição por quase três décadas, surge como protagonista das transformações, que reformaram o espírito da instituição ao valorizar o trabalho dos agentes e provocar sentimento de orgulho. Surgem as primeiras forças-tarefas — como são conhecidas — que levaram à dissolução de escândalos, como o caso PC Farias, nos anos 1990, que levou à renúncia do então presidente Fernando Collor.

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