Poucas figuras tornaram-se tão importantes para o mundo quanto Elon Musk. O sul-africano comanda empresas de negócios tidos como críticos para a tecnologia e o futuro da Humanidade: carros elétricos (Tesla), infraestrutura e mobilidade (The Boring Company) foguetes e telecomunicações (SpaceX), redes sociais (X, ex-Twitter), inteligência artificial (X.AI) e até computação cerebral (Neuralink). Além disso, ele é o homem mais rico do mundo, com patrimônio avaliado em cerca de US$ 250 bilhões.
Uma nova biografia sobre o bilionário busca esclarecer quem é essa figura. À venda no Brasil e Estados Unidos desde o último dia 12, a obra, cujo título minimalista leva somente o nome e sobrenome do biografado, foi escrita pelo jornalista americano Walter Isaacson, célebre biógrafo de gênios como Isaac Newton, Leonardo da Vinci e Steve Jobs. O livro pode ser encontrado nas livrarias por R$ 99,90 ou R$ 69,90 pela versão em e-book, publicado pela Ed. Intrínseca.
Além da vida do biografado, Elon Musk funciona como um guia para entender os últimos cinco anos do mundo da tecnologia, quando houve a última “troca de guarda” entre figurões do setor — após lidar com o escândalos Cambridge Analytica e Facebook Papers, Mark Zuckerberg saiu do centro das discussões e deu lugar para o atual dono do Twitter.
De discreto coadjuvante até 2018, Musk passou a ser um protagonista vocal: a Tesla virou a montadora mais valiosa do mundo, a SpaceX conseguiu botar em órbita os foguetes Falcon 9 e deve levar astronautas para a Lua em parceria com a Nasa e a Neuralink começará testes de implantes de microchips em cérebros humanos . Até a OpenAI, pela qual Musk teve breve passagem como cofundador, se tornou o principal nome em inteligência artificial (IA) graças ao ChatGPT. Atualmente, é impossível falar em Vale do Silício, inovação e novas tecnologias sem mencionar o nome do bilionário.
Um ponto marcante da obra de Isaacson é conectar o tempo todo a vida de Musk com acontecimentos do presente. Exemplo disso está no trecho que narra a participação de Musk na criação do PayPal, em 1999. Nele, o leitor descobre que a ambição de Musk era ter uma companhia chamada X.com, que misturava sistema de pagamentos e redes sociais. Inevitável não conectar com a recente mudança de nome do Twitter, cuja marca foi abandonada em julho de 2023. O quanto disso ficou na mente de Musk ao longo de mais de duas décadas é impossível de saber, mas a biografia faz parecer que tudo foi planejado pelo empresário.
Outra pista sobre como o livro olha mais para o presente do que para o passado é o fato de a obra dedicar apenas 100 páginas aos primeiros 30 anos de vida de Musk, que teve uma infância atribulada, muito em parte da figura autoritária do pai. As outras mais de quinhentas páginas são dedicadas aos 22 anos de vida seguintes do empresário, o que incluem o mundo desde os anos 2000.
Sobre a compra do Twitter, que levou cerca de oito meses para ser concluída, Isaacson dedica 14 capítulos, que narram como Musk abandonou a cadeira de conselheiro para se tornar dono da rede social. Os bastidores trazidos pelo biógrafo ganham detalhes inéditos, como a demissão do antigo presidente executivo da empresa, Parag Agrawal, e o desdém do bilionário pelos funcionários da firma.
Já sobre o surgimento da SpaceX, em 2001, o livro narra como empresário quase foi passado para trás por russos, que tentavam empurrar para o recém-milionário foguetes de segunda mão que seriam usados para enviar experimentos para Marte. Com o fracasso da negociação, Musk decidiu criar a própria companhia de foguetes – ele partiu do princípio que precisaria comprar apenas metal e combustível para tornar o sonho espacial em realidade.
Há também passagens com outras figuras famosas, como a disputa com o fundador da Amazon, Jeff Bezos (um rival no ramo da exploração espacial com a Blue Origin), a troca ácida de mensagens com o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o primeiro encontro com a artista canadense Grimes. Os bilionários Larry Ellison, cofundador da Oracle, e Peter Thiel (investidor e um dos nomes responsáveis por catapultar o Facebook, em 2005) são figuras que aparecem com frequência na vida de Musk.
São todos esses bastidores que tornam tão divertido o livro, cuja leitura tem um ritmo leve para as mais de seiscentas páginas de história.