Dos oito modelos de fuzis produzidos pela Taurus, sete estão contemplados pelo Exército na lista de armas que podem ser vendidas para integrantes das Forças Armadas e das polícias militares terem em casa.
Os militares são um novo público alvo do comércio legal de armas de maior potencial destrutivo, desde que os decretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva limitaram fortemente o acesso de CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) a armas de uso restrito, como os fuzis e as pistolas 9 mm.
Ao longo do último ano, o principal executivo da empresa, Salesio Nuhs, foi recebido quatro vezes no Ministério da Defesa e no Comando do Exército.
A primeira agenda do executivo no novo governo foi no dia 11 de janeiro, com o então comandante do Exército Julio Cesar de Arruda, três dias após a depredação da Praça dos Três Poderes. O atual comandante, general Tomás Paiva, foi nomeado em 21 de janeiro. Ele recebeu Nuhs em 1º de fevereiro, seis dias antes da cerimônia de posse.
Em nota, o Exército afirma que reuniões de representantes de segmentos com instituições regulatórias “são consideradas normais, pois, na sua essência, tendem a contribuir para o aperfeiçoamento de práticas, como usuários finais dos sistemas existentes”. Além disso, destacou que “em momento algum, as referidas interações interferem nas decisões e processos conduzidos pelo Comando do Exército”.
O mercado nacional representou 30% do faturamento global da Taurus em 2022 com armas e acessórios. A maior parte das vendas foi para civis: 64%.
As vendas feitas para membros de instituições, público que agora desponta como o mais atrativo, representaram 29%, segundo dados apresentados a investidores. As instituições, como as políticas, eram 7% dos negócios.
Os sete fuzis da Taurus que podem ser comprados por militares são variações do modelo T4, um equipamento não recomendado para defesa pessoal, mas para “ataque”. O Exército das Filipinas é um dos principais clientes da empresa com sede no Rio Grande do Sul.
Desde antes de chegar à presidência, Jair Bolsonaro tenta popularizar o T4. Em visita a um estande em 2017, o então deputado chamou a arma de “nosso T4″ e afirmou que “se eu chegar lá, você, cidadão de bem, no primeiro momento vai ter isso aqui em casa (exibindo uma pistola). Você, produtor rural, no que depender de mim, vai ter isso aqui também (exibindo o T4)”.
Na gestão dele, civis foram autorizados a adquirir o T4 e outros modelos. “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. O povo armado jamais será escravizado. Aí o idiota: ‘ah, tem que comprar feijão’. Se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”, disse a apoiadores em agosto de 2021.
Mais tarde, investigações mostraram que alguns deles foram parar nas mãos do crime organizado depois de terem sido comprados legalmente. O recadastramento de armas exigido pela Polícia Federal em 2023 não recebeu informações sobre 6,1 mil armas de uso restrito, cujo paradeiro é desconhecido.
Ao definir regras para acervos pessoais de militares, policiais militares e integrantes de outras instituições, o Exército vedou a compra de armas automáticas, que disparam rajadas, e armas longas semiautomáticas que produzam energia, em um teste específico, superior a 1.750 joules (uma unidade de medição de energia cinética). As variações do T4, que têm calibre 5,56 mm x 45 mm, geram 1.748,63.
Nota de esclarecimento
Confira, a seguir, nota esclarecimento encaminhada pela Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições (Aniam):
“A matéria faz insinuações sem qualquer base sobre suposta influência da Taurus em portaria sobre o acesso por militares a certos tipos de fuzis. Isto não tem qualquer respaldo na realidade. A Taurus não discutiu essa regulação com o Exército ou o Ministério da Defesa e não teve influência sobre a portaria, que inclusive permite o acesso a fuzis de vários outros fabricantes.
A Aniam, entidade sem fins lucrativos que representa e defende os interesses da indústria brasileira de armas e munições, repudia essa tentativa de prejudicar a imagem de uma de suas associadas por meio de insinuações infundadas.
As associadas da Aniam são empresas estratégicas de defesa. Integram um setor fundamental e estratégico para o país, reconhecido como tal pela Estratégia Nacional de Defesa, que existe desde 2008. São empresas intensivas em capital, detentoras de tecnologia brasileira de ponta, que exportam boa parte de sua produção, gerando milhares de empregos, divisas e desenvolvimento para o país.
O setor de armas e munições é objeto de uma regulação extensa e complexa, de competência de diversos órgãos, incluindo Exército, Polícia Federal e outros. E essa regulação vem sofrendo alterações significativas nos últimos anos, conforme as mudanças de governo, que afetam a segurança jurídica de que o setor precisa para continuar contribuindo com o desenvolvimento do país.
Assim, é perfeitamente normal e legítimo que representantes do setor, como o Sr. Salesio Nuhs, presidente da Aniam e da Taurus, levem às autoridades competentes suas posições, opiniões e ponderações sobre os temas que afetam essa indústria. Seja qual for o governo. É nesse contexto que são solicitadas audiências, registradas publicamente, para discutir os temas de interesse do setor.
Portanto, é lamentável e condenável que se tente denegrir a imagem de uma empresa estratégica de defesa, reunindo informações desconexas e fora de contexto, como faz a referida matéria, para sugerir que há alguma influência indevida sobre as decisões das autoridades constituídas, seja deste governo ou do anterior. Isso nunca ocorreu e não ocorrerá.
A Aniam continuará atuando em defesa dos legítimos interesses de suas associadas, de maneira ética, transparente e responsável, levando aos órgãos públicos as informações que considerar úteis ou necessárias ao desenvolvimento das políticas públicas para o setor.”