Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2023
As lojas Americanas decidiu afastar seis executivos e diretores da área financeira e contábil da companhia e de suas controladas para evitar que eles “contaminem” as investigações sobre o rombo bilionário que levou a varejista a pedir recuperação judicial. O período em que ficarão fora da companhia ou mesmo o retorno deles está condicionado à apuração das investigações.
“O Conselho de Administração da Companhia deliberou, nesta data, afastar os diretores estatutários de todas as suas funções e atividades na Companhia e suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do Fato Relevante publicado em 11 de janeiro de 2023 (o rombo bilionário), sem que o afastamento represente qualquer antecipação de juízo”, diz trecho do comunicado divulgado ao mercado.
Carlos Alberto Sicupira e Paulo Alberto Lemann, filho de Jorge Paulo, integram o conselho de administração da Americanas. No total, são sete membros, incluindo Eduardo Garcia, Claudio Garcia, Mauro Not (independente), Sidney da Costa (independente) e Vanessa Claro Lopes (independente).
Esses diretores já não têm mais acesso à contabilidade da empresa e nem mesmo aos e-mails corporativos desde o dia 11 de janeiro, quando a empresa publicou um fato relevante dizendo que foram identificadas “inconsistências contábeis” no balanço que somavam R$ 20 bilhões nas primeiras estimativas. Como consequência, Sérgio Rial, ex-Santander, renunciou ao cargo, após nove dias como presidente da empresa. Junto com Rial, o diretor-financeiro Andre Covre, ex-Ultrapar e ex-Extrafarma, eleito pelo conselho em dezembro para a função, também deixou a empresa.
Recuperação fiscal
No dia 19 de janeiro, a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da Americanas, que comunicou ter uma dívida de R$ 43 bilhões, a quarta maior da história. A companhia pagava fornecedores por meio de uma triangulação com bancos, mas os pagamentos não foram devidamente dimensionados e realizados, gerando o rombo.
Ao pedir a recuperação judicial, a empresa já tinha anunciado ter instalado um Comitê Independente, liderado pelo jurista e ex-diretor da CVM, Otávio Yazbek, e a contratação da Rothschild. Ainda mencionou a nomeação da executiva Camille Loyo Faria para o cargo de nova diretora financeira (CFO). Porém, especialistas criticaram a decisão de deixar a executivos que davam as cartas na empresa nos últimos anos a tarefa apurar as “inconsistências contábeis” que levaram o negócio ao imbróglio.
Nova estrutura
Agora, de acordo com o comunicado, a lojas Americanas terá uma nova estrutura com o afastamento dos diretores Anna Saicali, Timotheo Barros, Marcio Cruz, Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes. A empresa apontará novas lideranças, internas e externas. Para o gerenciamento da recuperação judicial, a varejista contratou a Alvarez&Marsal e a consultoria da Deloitte Touche Tohmatsu para assessoria contábil. Outras mudanças não estão descartadas para garantir a operação da companhia. João Guerra, vindo do RH da Americanas, segue como CEO até nova eleição em 2024.
Quando se manifestaram, o trio de acionistas bilionários da Americanas – Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles – atribuiu publicamente parcela da culpa aos bancos credores da empresa, o que agravou ainda mais a guerra de versões dos bancos com a varejista. O trio afirmou desconhecer as “dissimulações contábeis” da varejista. Lemann, Telles e Sicupira disseram ainda lamentar as perdas sofridas por acionistas e credores e que acreditavam “firmemente que tudo estava absolutamente correto” na empresa. Os três também disseram terem sido “alcançados por prejuízos”.
Representantes de bancos credores afirmaram não acreditar na versão de que o comando da Americanas não soubesse das fraudes na contabilidade da companhia. Eles apontam uma sequência de fatos recentes que, vistos de trás para frente, deixam as instituições financeiras com desconfianças em relação à versão dada pelos maiores acionistas.