Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de março de 2023
O médico do clube, Márcio Dornelles, disse que o problema do ex-jogador provavelmente derivou de uma miocardite, e não falou em evento adverso de vacina em nenhum momento
Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPAAtleta de 36 anos, o meia do Grêmio Lucas Leiva anunciou a aposentadoria do futebol em 17 de março devido a uma fibrose cicatricial do miocárdio. Em coletiva de imprensa, o médico do clube, Márcio Dornelles, disse que o problema provavelmente derivou de uma miocardite — que é uma inflamação no músculo cardíaco com múltiplas causas, mas geralmente resultado de uma infecção no organismo. Ele não falou em evento adverso de vacina em nenhum momento da conversa com os jornalistas.
Ao Comprova, Dornelles ressaltou que o atleta não teve nenhuma alteração cardíaca constatada nos exames realizados em junho do ano passado, quando o clube gaúcho contratou o volante. A condição só viria a ser descoberta em dezembro, na bateria de exames de pré-temporada. Nesse intervalo, Lucas não recebeu nenhuma dose da vacina.
Covid
A miocardite já foi descrita, de fato, como um evento adverso extremamente raro das vacinas contra a covid, em especial as que usam plataformas de RNA mensageiro, como a Comirnaty, da Pfizer. Mas, ao fazer uma relação com o caso de Lucas, o conteúdo espalha desinformação.
De acordo com nota técnica do Ministério da Saúde, a incidência de miocardite como reação adversa das vacinas contra a covid ocorre na ordem de 0,029 eventos para cada 100 mil doses aplicadas no Brasil, ou um caso a cada 3,4 milhões de doses. A maioria dos pacientes apresenta sintomas leves, dentro de duas semanas, e se recupera. Autoridades de saúde e especialistas ressaltam que os benefícios são maiores do que os riscos do medicamento.
Investigação do Comprova
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O áudio circula no WhatsApp com o aviso “encaminhada com frequência”, sinalização que indica a alta viralização do conteúdo. Post no Twitter ligando o caso de Lucas à vacina foi visualizado mais de 630 mil vezes até 22 de março. No TikTok, publicação semelhante teve cerca de mil compartilhamentos, e, no Instagram, chegou a 4,2 mil interações.
O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com as contas que divulgaram o conteúdo por mensagens diretas nas redes sociais, mas não obteve resposta. O autor do áudio não pôde ser identificado.
Como verificamos: O primeiro passo foi buscar reportagens sobre a aposentadoria de Lucas Leiva. Uma delas, do UOL, detalha o problema cardíaco do atleta. Em seguida, entramos em contato com a assessoria de imprensa do Grêmio, por mensagem no WhatsApp, e acompanhamos as redes sociais do atleta e da equipe médica envolvida em seu caso.
Também pesquisamos informações sobre a relação da vacina com a miocardite. Foi encontrado, por exemplo, um alerta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre relatório da FDA, órgão de saúde dos Estados Unidos, que aborda casos de miocardite em pessoas imunizadas com vacinas da Pfizer e da Moderna. O Ministério da Saúde também atualizou uma nota técnica no ano passado a respeito do assunto.
Na tentativa de descobrir se o áudio viral do WhatsApp era de alguém da equipe médica do atleta, a reportagem pesquisou vídeos no YouTube com Dornelles e outros integrantes da equipe e comparou com a voz do áudio. Já na primeira audição foi possível verificar que não eram as mesmas vozes. Nesta terça-feira, 21 de março, Lucas e o médico do Grêmio postaram stories no Instagram desmentindo o boato.