O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a Cúpula de Líderes do G20 nessa segunda-feira (18) enfatizando o agravamento de crises globais, com aumento de guerras, extremos climáticos, fome e pobreza.
“Estive na primeira reunião de líderes do G20, convocada em Washington no contexto da crise financeira de 2008. Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior”, afirmou.
A fala foi feita na primeira sessão da cúpula, realizada este ano no Rio de Janeiro, que começou com o lançamento oficial da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
A iniciativa liderada pelo Brasil, presidente do G20 neste ano, nasce com 147 membros fundadores, incluindo 82 países e grandes instituições internacionais, como o Banco Mundial e organismos das Nações Unidas (ONU).
“Esse será o nosso maior legado”, disse o presidente sobre a Aliança.
Lula criticou o gasto mundial de US$ 2,4 trilhões em armamentos no ano passado, quando existiam 733 milhões de pessoas subnutridas no mundo, segundo dados da ONU para 2023.
“Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada. Os fenômenos climáticos extremos mostram seus efeitos devastadores em todos os cantos do planeta”, continuou Lula, em fala aos líderes mundiais.
O presidente destacou ainda que “as desigualdades sociais, raciais e de gênero se aprofundaram, na esteira de uma pandemia que ceifou mais de 15 milhões de vidas”.
“O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza”, acrescentou.
Em declaração feita no meio da tarde dessa segunda, o presidente brasileiro reforçou sua posição: “A globalização neoliberal fracassou. Em meio a crescentes turbulências, a comunidade internacional parece resignada a navegar-se em rumo por disputas hegemônicas. Permanecemos à deriva, como que arrastados por uma torrente que nos empurra para uma tragédia”.
Primeira vez
Esta é a primeira vez que o G20 é realizado no Brasil, que está na presidência temporária do grupo desde o fim de 2023.
Fazem parte do grupo, além do Brasil: Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Rússia, Índia, Canadá, Coreia do Sul, Arábia Saudita, México, Argentina, Turquia, Indonésia, Austrália e África do Sul.
Originalmente, são esses 19 países somados à União Europeia — daí o nome G20 (Grupo dos 20). Em 2023, também foi incorporada a União Africana, que reúne os 55 países e territórios da África.
Além dos membros, a cúpula do Rio conta ainda com 19 convidados, entre eles Espanha, Portugal, Chile, Colômbia, Emirados Árabes e Angola.
O encontro, que termina nesta terça-feira (19), representa a conclusão dos trabalhos conduzidos pelo Brasil na liderança.
Nele, os chefes de Estado “aprovam os acordos negociados ao longo do ano, e apontam caminhos para lidar com os desafios globais”, segundo a organização do evento.
O Brasil escolheu três prioridades para a sua presidência: combate à fome e às desigualdades; reforma da governança global; e transição energética e desenvolvimento sustentável.
Os debates têm como pano de fundo crescentes tensões globais, com guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, crise climática histórica e um mundo marcado pela polarização entre Estados Unidos e China.
Texto
A Declaração de Líderes do G20 foi aprovada com consenso. O texto foi publicado no início da noite dessa segunda-feira (18), no site do encontro de líderes mundiais.
A declaração trata em detalhes os três temas prioritários do encontro, além de pedir o fim das guerras da Ucrânia e na Faixa de Gaza e a taxação dos ultrarricos – nomeados como “indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto”– e de levantar preocupações com a inteligência artificial, entre outros temas.
Apesar de divulgar uma lista de ressalvas, o presidente da Argentina, Javier Milei, também aderiu à declaração. Devido às discordâncias anunciadas, havia a dúvida sobre a concordância do argentino.
Os três temas prioritários são:
* acordos para o combate à fome e à pobreza – foi lançada oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza;
* sustentabilidade e enfrentamento às mudanças climáticas;
* e a reforma da governança global, com mais representatividade de países emergentes em órgãos internacionais – como a Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo.