O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “não foi possível dar certo” a relação com o ex-comandante do Exército general Júlio César de Arruda, demitido do cargo no último sábado (21), menos de um mês depois de ter assumido a função. Segundo o petista, as Forças Armadas não devem “servir a um político”.
Arruda foi substituído pelo general Tomás Ribeiro Miguel Paiva. A troca no comando ocorreu em meio a uma crise de desconfiança provocada pelos atos extremistas de 8 de janeiro.
“Eu escolhi o comandante do Exército [Arruda] e não foi possível dar certo”, disse Lula na segunda-feira (23), durante viagem à Argentina.
“Eu tirei e escolhi outro comandante e tive uma boa conversa com o comandante, e ele pensa exatamente como tudo o que eu tenho falado com a questão das Forças Armadas. As Forças Armadas não servem a um político, elas não existem para servir a um político. Elas existem para garantir a soberania do nosso País, sobretudo contra possíveis inimigos externos e para garantir tranquilidade ao povo brasileiro”, completou o presidente.
Arruda havia assumido interinamente o comando do Exército em 30 de dezembro do ano passado, ainda no governo Jair Bolsonaro. Foi um acerto da equipe de transição de Lula com a gestão anterior para que a troca do comando ocorresse antes da posse do novo governo.
Arruda foi confirmado no cargo pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, no dia 6 deste mês. No dia 8, manifestantes radicais invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Na ocasião, houve depredação e furtos no Palácio do Planalto, no Supremo Tribunal Federal e no Congresso Nacional.
Em entrevista na semana passada, Lula disse que os serviços de inteligência das Forças Armadas e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) falharam e não o alertaram da possibilidade de ataques extremistas.
Além da crítica, Lula disse na entrevista que era necessário “não politizar” as instituições militares.
No último sábado, dia em que anunciou a troca no comando do Exército, o ministro da Defesa, José Múcio, disse que houve uma “fratura” na confiança. “Evidentemente que, depois desses últimos episódios, a questão dos acampamentos e a questão do dia 8 de janeiro, as relações, principalmente no comando do Exército, sofreram uma fratura no nível de confiança, e nós achávamos que nós precisávamos estancar isso logo de início, até para que nós pudéssemos superar esse episódio”, disse o ministro na ocasião.