O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a interlocutores que está preocupado com a “lavação de roupa suja” no PT e o futuro do partido. O receio é de que esse estica e puxa tenha impacto na construção de uma nova fisionomia da sigla, mais ao centro, para a campanha de 2026.
A ordem, agora, é antecipar ao máximo a temporada de discussões que põem o PT no divã. A partir desta terça (5), por exemplo, a Fundação Perseu Abramo e a cúpula petista vão promover uma série de debates preparatórios para um seminário intitulado “A Realidade Brasileira e os Desafios do Partido dos Trabalhadores”, que será realizado em 5 e 6 de dezembro. Lula cobra um freio de arrumação no discurso do PT, que precisa atrair os chamados empreendedores, após o mau resultado nas eleições municipais.
Os painéis abordarão temas como realidade brasileira e contexto internacional, novo mundo do trabalho e comunicação e as novas formas de sociabilidade. Todos esses assuntos voltarão à berlinda no mês que vem, durante seminário que contará com a presença de Lula, em Brasília.
A outra etapa do confronto no PT ocorrerá em junho de 2025, quando haverá a eleição do novo comando do partido, se o cronograma não for antecipado. Atualmente, o maior racha está na corrente de Lula, a Construindo um Novo Brasil (CNB).
Cargos comissionados
Desde que o partido voltou à Presidência da República, a ocupação de cargos de confiança por membros do PT chegou a 9% do total, aponta levantamento feito pelo jornal O Globo. O volume é maior do que o verificado por antecessores de Lula que pertencem a outras siglas, casos de Jair Bolsonaro (PL), Michel Temer (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O resultado foi obtido a partir do cruzamento dos dados de filiação disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com a base de servidores públicos comissionados, isto é, aqueles que chegaram ao cargo por nomeação. Enquanto estiveram fora da gestão federal, petistas atuavam em 0,9% desses postos, de acordo com informações de julho de 2022 — o percentual tornou-se dez vezes maior desde então, portanto.
Os dados indicam que existe uma relação direta entre a presença de filiados e o partido dos ministros responsáveis por cada órgão. No caso do PT, depois da Presidência, o local com mais filiados é a pasta do Desenvolvimento Agrário, comandada por Paulo Teixeira, deputado federal licenciado pela legenda. O índice de ocupação dos cargos de confiança é de 34%, mesmo patamar do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ligado ao mesmo ministério.
Já no Fundacentro, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, chefiado pelo também petista Luiz Marinho, sete dos dez cargos comissionados são ocupados por filiados ao PT. Procurado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário disse que reúne “profissionais de diversas filiações partidárias, composição que representa a base do governo”. Marinho e a pasta do Trabalho não se manifestaram.