Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 25 de janeiro de 2024
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi a público nessa quinta-feira (25), em defesa da indicação do ex-ministro Guido Mantega para o comando da Vale. Nas redes sociais, ela afirmou que o ministro é um dos “pouquíssimos brasileiros” qualificados para compor o conselho de administração da empresa, grupo do qual fazem parte os representantes dos acionistas.
As ações ordinárias da Vale tocaram o valor mínimo de R$ 69,31, com queda de 0,86%, logo após a publicação. As ações da Vale têm perda acumulada de 10,14% em 2024, por causa da pressão do governo para colocar Mantega no conselho e ter atuação mais ativa na empresa.
Lula também foi às redes, mas não mencionou Mantega. Citou os acidentes em Brumadinho e Mariana, em barragens de resíduos provenientes de mineração da Vale, para criticar a empresa.
“Hoje faz 5 anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. 5 anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada. É necessário o amparo às famílias das vítimas, recuperação ambiental e, principalmente, fiscalização e prevenção em projetos de mineração, para não termos novas tragédias como Brumadinho e Mariana”, escreveu.
O ministro Alexandre Silveira também fez referências, porém veladas, à companhia, ao tratar dos cinco anos do desastre em Brumadinho.
“Nossos recursos naturais devem servir ao povo, não o contrário. Precisam ser utilizados de forma responsável, garantindo o crescimento da atividade segura, com retorno social, e gerando emprego e renda para a população”, escreveu Silveira.
Pressão
Na quarta-feira (24), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, telefonou para conselheiros da empresa para defender a indicação de Mantega para a presidência da companhia, alegando se tratar de uma demanda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A informação foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada por um dos conselheiros.
Foi uma iniciativa que indicou a aposta redobrada do governo em influenciar na sucessão da Vale, ainda que a governança interna e a participação reduzida do governo na mineradora, privatizada em 1997, sejam obstáculos. O conselho da Vale vai se reunir na próxima terça-feira (30), para deliberar sobre o assunto.
Auxiliares de Lula e acionistas privados da Vale debateram um arranjo em que Mantega iria para o conselho de administração. O atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, permaneceria por um mandato mais curto (mais um ano) à frente da empresa e o nome da Cosan no conselho, Luis Henrique Guimarães, iria para o comitê executivo.
O arranjo segue na mesa. Mas de acordo auxiliares do presidente, o governo Lula deseja que Mantega tenha um papel de destaque no comando da empresa e não seja apenas um coadjuvante.
Na postagem, Gleisi citou números do período em que Mantega foi ministro (2006 a 2014) para defender que sua administração foi exitosa. Lembrou, por exemplo, que em 2008 o Brasil obteve o grau de investimento pelas agências de classificação de risco, título que perdeu em 2015 ainda no governo Dilma Rousseff (PT). Atualmente, o Brasil está dois degraus abaixo do grau de investimento.
Ela disse ainda que Mantega provou sua inocência contra “acusações falsas do lavajatismo” e que o ministro é vítima de injustiça da mídia.
“Guido não está sendo atacado por defeitos ou erros que tenha cometido. É atacado (e até odiado) por causa da inestimável contribuição que deu à estabilidade, qualidade e crescimento da economia em nosso país. Por tudo que fez pelo Brasil, Guido Mantega merece todo respeito e nossa irrestrita solidariedade”, escreveu Gleisi.
Em 2016, Mantega foi inabilitado pelo Tribunal de Contas da União a assumir cargos públicos em razão de sua participação nas “pedaladas” fiscais do segundo governo Dilma Rousseff e que levaram a então presidente ao impeachment. No ano passado, porém, a decisão foi suspensa pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal).
Ele também havia se tornado réu em uma ação que investigou a sua responsabilidade na edição de medidas provisórias, em 2008 e 2009, que permitiram a adesão de empresas como a Braskem (controlada pela Odebrecht) em programas de parcelamentos de dívidas tributárias, o que ficou conhecido como Refis da Crise. Em 2019, o STF declarou incompetência da Vara da Justiça Federal de Curitiba em julgar o ex-ministro.
A operação conduzida pelo governo para tentar emplacar Mantega na presidência da companhia é considerada de alto risco por conselheiros privados, porque a chance de o ministro ser eleito pela maioria é tratada como improvável. Isso porque o governo já não tem a influência que um dia já teve na mineradora.