Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 21 de fevereiro de 2024
Aliados e interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que o político deveria vir a público para tratar novamente do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. Não para ceder ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, mas para se dirigir à comunidade judaica no Brasil e no mundo. A ideia é reforçar que não teve a intenção de atacar os judeus.
Nesta semana, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, respondeu à altura os ataques de Israel ao presidente brasileiro – e vocalizados também pelo ministro israelense, Israel Katz.
Aliados de Lula avaliam que o presidente errou ao incluir a figura de Adolf Hitler e do Holocausto nas críticas a Israel. Também avaliam, no entanto, que agora não bastam notas oficiais, declarações de ministros e uma resposta dura de Mauro Vieira para reordenar o cenário.
O episódio ganhou uma dimensão interna que demanda, segundo esses interlocutores, uma nova fala pública do próprio presidente Lula. Para separar as coisas e, dizem, corrigir o “escorregão” do último domingo.
Em meio à repercussão, autoridades como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), defenderam Lula – mas alertaram que nada na história da humanidade se compara ao Holocausto.
Falas como essas reforçam a necessidade de Lula vir a público para tratar do tema, diminuir seu desgaste pessoal e deixar claro que o ataque no discurso de domingo tinha como alvo Netanyahu.
Caso contrário, o bolsonarismo vai continuar explorando o fato – espalhando o argumento de que, no fundo, Lula pensa exatamente o que disse: que os crimes de guerra de Israel na Faixa de Gaza podem ser comparados ao Holocausto.
“Só uma declaração pública de Lula poderá inverter o jogo. Enquanto só sua equipe diz, vai sempre parecer que Lula está evitando o tema”, disse um aliado.
Pedido de retratação
O governo de Israel cobrou um pedido de desculpas do presidente Lula por ter comparado a guerra em Gaza ao extermínio de judeus no Holocausto. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, chamou as manifestações israelenses de inaceitáveis e mentirosas.
Na começo da semana ele disse que o presidente brasileiro era persona non grata. Na terça (20), em português, afirmou que milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas e questionou: “Como ousa comparar Israel a Hitler?”
Katz disse que “Hitler levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e, depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel”.
O chanceler afirmou que “Israel embarcou em uma guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente. Não importava para eles se eram idosos, bebês, deficientes. Eles assassinaram uma garota em uma cadeira de rodas. Eles sequestraram bebês”. E acrescentou que “se não tivéssemos um Exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares”.
Israel Katz, então, reforçou a crítica a Lula: “Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”.
E concluiu insistindo na cobrança por um pedido de desculpas: “Ainda não é tarde para aprender história e pedir desculpas. Até então continuará sendo persona non grata em Israel”.