O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 57,25 milhões de votos no primeiro turno das eleições realizadas no 2 de outubro, considerando a apuração de 99,99% dos votos. O atual presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, recebeu 51,06 milhões de votos. Para que ganhasse as eleições no primeiro turno, Lula precisaria ter obtido pouco mais de 59,11 milhões de votos, considerando apenas a base dos votos válidos, que somaram 118,22 milhões. A diferença que jogou a disputa para o segundo turno foi, portanto, de 1,85 milhão de votos.
Iniciado o segundo turno, que será disputado no dia 30, ambos os candidatos devem buscar essencialmente os eleitores dos rivais que ficaram da terceira colocação para baixo, com destaque para Simone Tebet (MDB), que obteve 4,9 milhões de votos, e de Ciro Gomes (PDT), que recebeu 3,6 milhões. O conjunto de outros candidatos teve pouco menos de 1,4 milhão de votos. Ao todo, são cerca de 9,9 milhões de novos votos em disputa.
Num exercício que presuma que a taxa de votos nulos e em branco fique estável, e que os dois líderes não percam votos de seus próprios eleitores de primeiro turno, Lula precisa conquistar 19% dos votos desses demais candidatos na segunda rodada. De forma análoga, o caminho para Bolsonaro é maior, precisa obter mais de 81% dos votos em disputa, , ou 8,05 milhões de votos extras, para vencer o segundo turno.
Outra coisa que precisa entrar na conta são as taxas de abstenção e os votos em branco e nulos. Neste primeiro turno, a taxa de abstenção foi de 20,9% e, tradicionalmente, ela costuma crescer no segundo turno, em média 2 pontos percentuais. Já o índice de votos anulados ou em branco, que foi de 4,4% neste primeiro turno para presidente (bem abaixo do observado em outras eleições), costuma diminuir na segunda etapa (em 2018 houve quebra nessa tendência histórica).
Acumulação histórica
Os dois primeiros colocados na disputa ao Planalto registraram uma acumulação histórica de votos no primeiro turno ao obterem juntos 91,63% dos votos válidos após apuração de 99,98% das urnas.
A polarização supera a verificada em 2006, quando Lula e Geraldo Alckmin (PSB), à época adversários, obtiveram 90,25% dos votos válidos (48,61% e 41,64%). Era, até então, a maior concentração de votos nos dois principais candidatos após a redemocratização.
O cenário faz com que haja apenas 8,37% dos votos válidos em disputa no segundo turno. Os candidatos também podem tentar atrair os eleitores que votaram nulo (4,41% dos que compareceram) ou não foram votar (20,95% do total do eleitorado).
A distância do segundo colocado, Bolsonaro, para o terceiro é também o maior já registrado: 39,04 pontos percentuais de votos válidos de distância de Simone Tebet (MDB). Em 2006, Heloísa Helena (PSOL) ficou a 34,6 pontos percentuais de Alckmin.
Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, que trabalha com estatísticas e pesquisas, avalia que “uma superestimação de Ciro e Simone e uma subestimação de Bolsonaro” pelas pesquisas levaram o atual presidente a sair-se como “o vitorioso em primeiro turno, apesar de ficar 5 pontos atrás”. Mas, pondera o analista, “Lula a (apenas) 1,59 ponto de vencer no primeiro turno.”
De acordo com ele, sem contar a exceção de 2006 (quando Geraldo Alckmin, então tucano, teve mais votos no primeiro do que segundo turno), em 2022 o patamar mínimo de votos de Lula e Bolsonaro no turno decisivo, “a princípio”, será o que já obtiveram – Lula recebeu 57,2 milhões de votos e Bolsonaro, 51 milhões.
Para uma perspectiva das próximas semanas, Almeida lembra que ambos disputam agora os 8,37% de eleitores que não votaram nem Lula nem Bolsonaro. “São eles que irão definir o vencedor. Lula precisa de 1,59% destes 8,37% para vencer. Bolsonaro precisa de 6,8%. A tarefa de Bolsonaro é dificílima”, avalia.
Para Almeida, Lula permanece sendo favorito, embora não mais “o franco favorito” que as pesquisas apontavam até a semana passada, com uma dianteira de 8 a 10 pontos para Bolsonaro. Ele destaca que, dos votos de Ciro no Nordeste, a maioria certamente vai para Lula.