Realizado neste domingo (30) em todo o País, o segundo turno das eleições teve entre os seus vários desfechos o sinal-verde à volta de dois políticos ao poder: Eduardo Leite como governador do Rio Grande do Sul e Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. São duas conquistas significativas: o tucano se tornou o primeiro reeleito ao Palácio Piratini, enquanto o petista conquistou um terceiro mandato ao Planalto, algo inédito.
Prefeito de Pelotas (Região Sul) entre 2013 e 2016 e, antes disso, secretário municipal, vereador e presidente da Câmara Municipal na mesma cidade, o tucano gaúcho já é detentor da marca de mais jovem político eleito para o governo gaúcho: tinha apenas 33 anos ao vencer José Ivo Sartori (MDB) no pleito de 2018, com 53,6% da preferência do eleitorado.
Desta vez, derrotou Onyx Lorenzoni (PL) ao obter 3.687.126 votos (57,12%), contra 2.767.786 (42,88%) do adversário. Em seu discurso, reconheceu – mesmo indiretamente – que boa parte desse êxito se deve à adesão do eleitorado petista, cujo voto contra o bolsonarismo (representado por Onyx) permitiu a Leite virada neste domingo (ele havia sido derrotado no primeiro turno).
Ele também elogiou o deputado estadual Gabriel Souza (MDB), seu futuro vice e cuja adesão à chapa foi motivo de divergências internas em seu partido: “Um privilégio trilhar essa jornada ao seu lado. Terá absoluto protagonismo em nosso governo e nos ajudará a levar o Rio Grande do Sul para um futuro melhor”.
Leite não foi exatamente reeleito, pois renunciou ao cargo no final de março para avançar em seu plano de concorrer à Presidência da República (intenção que não se concretizou). Mas sua vitória é assim tratada sob o prisma da legislação eleitoral: por ter vencido dois pleitos seguidos para o cargo, estará impedido de concorrer a terceiro mandato em 2026.
Por fim, o político tucano carrega em sua trajetória outra façanha jamais vista na história política do Rio Grande do Sul: a de primeiro governador a assumir publicamente que é homossexual. A revelação foi feita durante entrevista em programa de televisão, em julho do ano passado.
Lula
Já para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a vitória apertada contra Jair Bolsonaro neste domingo (50,9% a 49,1% dos votos válidos) não traz como “recorde” apenas o número de três eleições bem-sucedidas para a o Palácio do Planalto. Ele também se tornou o político mais idoso a chegar ao cargo pelo voto popular, já que completou 77 anos na última quinta-feira (27).
O petista nascido em Garanhuns (PE) tem longa trajetória, iniciada na década de 1970. Lula era dirigente no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista (um dos principais centros industriais do País) e em 1975 chegou ao comando da entidade, que representava 100 mil trabalhadores.
Reeleito para o cargo três anos depois, passou a liderar as primeiras greves operárias em mais de uma década, já em meio ao processo de reabertura política lenta e gradual, em uma época na qual o Brasil ainda vivia sob ditadura militar (1964-1985).
Mais de 170 mil metalúrgicos pararam as fábricas na região em 1979. No ano seguinte, esse número chegou a 200 mil. A repressão policial ao movimento grevista fez com que Lula fosse preso, mas também favoreceu o surgimento de um novo e combativo líder popular.
Ainda em 1980, Lula foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e, alguns anos depois, também estaria na linha-de-frente da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Foi, ainda, um dos principais líderes da campanha das “Diretas Já” para a Presidência da República, em 1984 – a iniciativa acabou derrotada por maioria no Congresso Nacional.
O ingresso na política “para valer” se deu em 1986, como deputado federal – o mais votado do País – para a Assembleia que elaborou a Constituição Federal de 1988. Consolidada sua posição de expoente nacional, foi lançado à disputa da Presidência da República em 1989, após 29 anos sem eleição popular para o cargo.
Ele perdeu a disputa no segundo turno para Fernando Collor de Mello (do hoje extinto PRN). Mas em 1992 o petista estava entre os principais nomes de uma mobilização nacional anticorrupção, que culminou no impeachment de Collor.
Em 1994 e 1998, Lula voltou a ser candidato ao Palácio do Planalto, sendo derrotado nas duas ocasiões por Fernando Henrique Cardoso nas duas ocasiões. A grande virada se deu em 2002, quando finalmente chegou à Presidência. Foram dois mandatos, entre 2003 e 2010 e cuja última gestão se encerrou com aprovação popular histórica: mais de 80%.
Condenado em 2018 à prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro durante o exercício do cargo de presidente, Lula acabou tendo seus processos anulados pela Justiça, que concordou com o argumento da defesa de que o réu havia sido submetido a julgamento parcial. Ele foi solto após permanecer 580 dias em uma cela na sede da Polícia Federal, decidido a retomar o comando do País.
(Marcello Campos)