Domingo, 20 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 19 de abril de 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mandatário que menos se reuniu com parlamentares nos primeiros 28 meses de governo desde que a Lei de Acesso à Informação (LAI) passou a exigir a divulgação pública das agendas, em 2012. De lá para cá, no segundo governo Dilma Rousseff (entre 2015 e meados de 2016), no de Michel Temer, seu sucessor após o impeachment, e no de Jair Bolsonaro, os parlamentares tiveram mais encontros com os presidentes. De 2023 até agora, o petista registra apenas 96 agendas com congressistas no Palácio do Planalto, enquanto seu antecessor, no mesmo intervalo, esteve com deputados federais ou senadores em 502 ocasiões.
Por meio de nota, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) informou que o presidente Lula mantém contatos com parlamentares também em viagens oficiais e encontros informais, além das agendas no gabinete. Segundo a pasta, o presidente tem priorizado o diálogo com o Congresso em temas de interesse nacional e reiterado a importância das duas Casas na aprovação de medidas relevantes do governo, como a Reforma Tributária.
Em 2023, primeiro ano do atual mandato, Lula participou de 47 agendas com parlamentares. No ano seguinte, o número se manteve praticamente estável, com 42 encontros. Já em 2025, até início de abril, o petista esteve em apenas sete ocasiões com algum deputado ou senador, totalizando 96 interações com congressistas desde o início do mandato.
Mais de 97% dessas agendas contaram com a participação de deputados e senadores do próprio PT. Foram raras as ocasiões em que Lula se reuniu com lideranças de siglas fora do núcleo petista, como no primeiro ano de governo, quando recebeu integrantes do Progressistas, ou em fevereiro de 2024, ao se encontrar com líderes do Republicanos, PSD e Podemos.
Reeleição
Para Leandro Consentino, professor de Ciência Política do Insper, embora a agenda oficial não registre reuniões realizadas fora dos canais de divulgação pública, o fato de Lula ter adotado uma postura de articulação menos direta com o Congresso contribui para as dificuldades do governo em aprovar pautas prioritárias e manter uma base coesa desde o início do terceiro mandato. “Isso pode resvalar no projeto de reeleição de Lula em 2026 ,afirma Consentino. “Ele precisa do Congresso neste ano mais do que nunca para aprovar projetos econômicos.”
A percepção de que Lula tem demonstrado pouca paciência para as rotinas do governo e para os rituais da política é de partidos da própria base governista. O deputado federal Mário Heringer, líder do PDT na Câmara, afirma que a queixa é recorrente e que o presidente, de fato, se afastou das relações com o Legislativo neste mandato. “É o período em que Lula está mais distante do Legislativo de verdade”, diz, ressaltando que a postura contribuiu para as derrotas do governo no Congresso.
A insatisfação vem desde 2023, quando parlamentares já se queixavam do distanciamento e da falta de disposição do presidente em recebê-los no Planalto. Agora, porém, líderes afirmam que há a expectativa de que o mandatário passe a receber com mais frequência deputados e senadores.
A virada de chave é atribuída à recente viagem ao Japão, na qual Lula esteve acompanhado dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além de outros parlamentares. A agenda internacional teria servido para “ajustar os ponteiros” entre Executivo e Congresso.
Fator Gleisi
Em outra frente, a entrada de Gleisi Hoffmann na SRI, responsável pela articulação política do governo, foi bem recebida por parlamentares. Presidente do PT e próxima de Motta, ela assumiu o posto no lugar de Alexandre Padilha e tem sido descrita nos bastidores como uma “articuladora profissional”, capaz de reabrir canais travados desde o início do governo, em um momento de reposicionamento político visando as eleições de 2026.
A mudança ocorre enquanto tramitam no Congresso projetos prioritários para o Planalto, como a PEC da Segurança Pública, o crédito consignado a trabalhadores do setor privado, o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, a Reforma Tributária sobre o consumo e o novo Plano Nacional de Educação.
Consentino aposta que, com a proximidade da disputa eleitoral, a tendência é que as reuniões entre o Executivo e o Congresso aumentem, mas pondera que a disposição para o diálogo precisa partir dos dois lados. Com informações do jornal O Estado de S. Paulo