Sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 31 de janeiro de 2025
Como esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu a orientação dada na reunião de dezembro último e aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Unânime e sem surpresas, a decisão levou a Selic ao maior nível desde setembro de 2023.
Desta vez, foram poucas as vozes dispostas a criticar o Banco Central (BC). O tom foi dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem o presidente do BC, Gabriel Galípolo, não poderia dar “um cavalo de pau em um mar revolto de uma hora para outra”. “Já estava praticamente demarcada a necessidade de subida de juros pelo outro presidente”, afirmou.
A rara trégua dada ao Copom só ocorreu porque, na versão petista, ainda é possível atribuir toda a culpa a Roberto Campos Neto. “Nós temos que ter paciência. Eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central e tenho certeza de que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor no tempo em que a política permitir que ele faça”, afirmou Lula da Silva.
Em tempos de tanta instabilidade, o armistício é positivo. Como disse o comunicado divulgado pelo Copom após a reunião, o ambiente externo continua desafiador, há dúvidas sobre qual será o ritmo de desaceleração da economia norte-americana e os bancos centrais das principais economias do mundo ainda lutam para conduzir a inflação à meta em meio a um mercado de trabalho pressionado.
Não é diferente no Brasil. A taxa de desemprego segue baixa, as projeções para a inflação estão acima da meta para este ano e 2026 e ainda subiram nas últimas semanas e a percepção dos investidores sobre a política fiscal e a trajetória da dívida continua a causar impactos relevantes nos preços dos ativos e nas expectativas.
Se o Copom cumprir a rota indicada, haverá ao menos mais uma elevação de 1 ponto porcentual e a Selic irá a 14,25% ao ano em março, o maior nível desde o fim de 2016. Depois disso, o caminho está em aberto, o que é até compreensível em um momento de tantas incertezas e o retorno de Donald Trump à Casa Branca. Na conjuntura atual, os três meses até a reunião do Copom marcada para os dias 6 e 7 de maio parecem uma eternidade para sinalizar algo mais firme.
A desaceleração econômica ainda parece incipiente, mas já entrou no rol de preocupações do BC. O recuo do câmbio nos últimos dias pode ajudar a arrefecer o aumento dos preços dos alimentos, enquanto os serviços devem continuar pressionados. Parte do mercado aposta em uma Selic a 15% ao ano em maio, mas a última vez em que a taxa esteve neste patamar foi em 2006, e nem esse nível seria capaz, hoje, de conduzir a inflação ao centro da meta, de 3%.
Tantas dúvidas no cenário econômico poderiam ser parcialmente dissipadas se o governo estivesse disposto a ajudar a autoridade monetária com uma política fiscal mais austera. Sobre isso, no entanto, Lula da Silva não poderia ter sido mais claro e declarou que, a depender dele, não haverá novas medidas para cortar gastos. Como o BC lidará com esse cenário ainda é uma incógnita, mas, até maio, a instituição poderá contar com a condescendência do presidente da República. (Opinião/Estadão Conteúdo)