O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campo nos últimos dias para tentar organizar as alianças do PT e da esquerda em cidades-chave nas eleições municipais deste ano, previstas para outubro.
O movimento, com reuniões no Palácio do Planalto, ocorre em meio a fragilidades na aliança com o Psol de Guilherme Boulos em São Paulo e com a expectativa de emplacar vices nas chapas dos prefeitos Eduardo Paes (PSD), no Rio, e João Campos (PSB), em Recife. O presidente também atuou para costurar o apoio do Psol ao deputado federal petista Rogério Correia (MG), em Belo Horizonte.
Na última quarta-feira (5), Lula reuniu-se com Boulos, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), o deputado Rui Falcão (PT-SP) e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, em seu gabinete, para exigir mais engajamento do PT na campanha na capital paulista. Segundo relatos, Rui Falcão ficou incumbido de mobilizar o PT paulistano e cobrar o fim do “corpo mole” de uma ala do partido, detectado no entorno de Boulos, no Planalto e na cúpula petista.
Conquistar a prefeitura de São Paulo é “prioridade zero” de Lula, principalmente em um quadro de expectativa de um desempenho ruim do PT e da esquerda nas eleições municipais deste ano.
Assim, Lula também determinou um freio na movimentação de parte da bancada de vereadores do PT paulistano para barrar repasses do fundo partidário para a campanha de Boulos. O nome do Psol terá como sua vice a ex-prefeita Marta Suplicy, que recentemente retornou ao partido em uma costura feita pelo próprio presidente da República.
Mas, apesar desses esforços do presidente, a leitura no Palácio do Planalto é a de que a disputa em São Paulo será difícil, e que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é favorito à reeleição, apesar da popularidade relativamente baixa.
Além da torcida pelo “imponderável” – algo que prejudique a campanha de Nunes –, existe a percepção de que a fragmentação de candidaturas no campo da direita favorece Boulos. Essa avaliação leva em conta o fato de que, recentemente, o “influencer” Pablo Marçal (PRTB) anunciou sua pré-candidatura, o que pode tirar do atual prefeito parte do voto bolsonarista no primeiro turno.
Nos últimos dias, Lula também conversou com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ao telefone e pediu a ele que cedesse a vaga de vice a André Ceciliano, quadro do PT que deixou o cargo de secretário de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) para articular justamente sua entrada na chapa do prefeito.
No mesmo dia, o presidente esteve no Palácio do Planalto com João Campos, que concorrerá à reeleição pela prefeitura de Recife e com quem o PT tenta negociar a entrada de outro auxiliar de Padilha como vice em sua chapa – no caso, o chefe de gabinete Mozart Sales. Há a expectativa de que Mozart deixe o posto em julho por conta da legislação eleitoral.
Porém, tanto em relação ao Rio como a Recife, há pessimismo no Planalto quanto às possibilidades de Ceciliano e Mozart. Em ambos os casos, tratam-se de prefeitos populares, com alta chance de reeleição e ambição de concorrer a cargos de governador em 2026. Assim, Paes e Campos já vêm manifestando preferência por um vice próximo a eles: Pedro Paulo (PSD) e Victor Marques (PCdoB), respectivamente.
Eles têm sinalizado, além disso, que o PT não é relevante para seu sucesso nas urnas. No caso de Paes, diz um interlocutor do governo, a mensagem tem sido a de que a presença do partido de Lula em sua chapa pode até dificultar a conquista do voto bolsonarista.
Na prática, a palavra final caberá aos prefeitos, embora se admita que Lula pode ter influência nas escolhas. A dúvida no entorno do presidente, no entanto, é sobre se Lula está disposto a atuar com força junto a Campos e Paes, como vem fazendo em favor de Boulos em São Paulo, ou se adotará um estilo mais ameno, a fim de não comprometer seus palanques nessas duas importantes cidades em 2026. Por enquanto, vem prevalecendo a segunda opção.
Na última quarta, Lula recebeu ainda Gleisi e a presidente nacional do Psol, Paula Coradi, para traçar a estratégia para Belo Horizonte (MG). O atual prefeito, Fuad Noman (PSD), que tenta a reeleição, estava presente, assim como os pré-candidatos de ambos os partidos, o deputado petista Rogério Correia e a deputada estadual Bella Gonçalves (Psol-MG).
Na reunião, ficou acertada a retirada da candidatura de Bella Gonçalves para apoiar o petista, anunciada no fim de semana.
“Estamos dando um primeiro passo para a união da esquerda em Belo Horizonte”, disse Coradi em nota. Ainda não está definido se o Psol terá a vice nessa chapa.