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“Lula está preso, babaca”

Lula tem dito a aliados que, na hipótese de deixar a prisão em breve, pretende rodar o Brasil. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Do nada, a juíza Carolina Lebbos, determinou a transferência de Lula, da Polícia Federal de Curitiba para a penitenciária de Tremembé, em São Paulo. As hordas justiceiras vibraram: não lhes basta que o ex-presidente esteja preso, querem-no humilhado.

Ora, senhores, Lula está preso. Não pode ir nem vir, não pode desfrutar do convívio diário com os familiares e, quase incomunicável, não pode usar telefone nem internet. É preciso agravar-lhe a pena, infligir-lhe a humilhação de conviver com criminosos de toda espécie, alguns de alto risco?

Esse homem cometeu erros e está pagando a conta. Ele tem a seu favor a atenuante de que as suas condenações têm vários aspectos discutíveis, como a celeridade inusitada, o afastamento a tempo e hora de uma candidatura viável à Presidência, a promoção do seu principal algoz, juiz Sérgio Moro, a um posto proeminente na República, dando sentido a uma inevitável impressão que tinha recebido um prêmio pela conduta além do dever.

(Por favor, senhores, não votei em Haddad e não votaria em Lula. E nem em Bolsonaro).

A decisão da doutora Lebbos foi festejada pelos jacobinos de prontidão. Como, entretanto, nem tudo está perdido, houve uma reação ao pretendido enxovalho. Bastava um único e miserável argumento para derrotá-lo: a transferência para um presídio comum – quem não sabe disso, senhores? – representaria um risco de vida para o ex-presidente. Nas sucursais do inferno não faltam loucos e assassinos.

O caso caiu nas mãos do ministro Gilmar Mendes, e foi o quanto bastou para que as milícias raivosas da internet se levantassem em protesto: logo com ele, o Gilmar que tudo perdoa e a todos solta? Mas o próprio pleno do STF chamou para si a decisão, em ato que o engrandeceu, e por 10×1 impediu a transferência. Na mesma hora, cerca de 70 deputados e senadores se dirigiram a pé, do Congresso até o prédio do Tribunal, para protestar contra a mesquinharia. Interrompeu-se, enfim, o ato de boçalidade explícito.

Em meio a tudo, o governador João Doria, que aprecia recair em fala excessiva e insultuosa, fez graça, ao saber que Lula viria para São Paulo: “Lula terá a oportunidade de fazer o que jamais fez: trabalhar”.

Pouco antes, Bolsonaro, nos seus melhores dias, publicou um vídeo no Twitter, de quando era deputado federal, comparando Dilma Rousseff a uma cafetina, que havia escolhido sete prostitutas para compor a Comissão da Verdade.

Doria segue os danosos exemplos do presidente, na esperança de que, imitando-o, colha os mesmos frutos eleitorais no futuro. Bolsonaro já tinha copiado Trump. Não há nada que os governantes copiem mais do que os maus exemplos.

As franjas nervosas do bolsonarismo se excitam com o esculacho alheio. Mas não só elas. Certos medalhões do jornalismo fazem cara de paisagem com os dizeres sórdidos, as manifestações de incivilidade e opiniões obscurantistas, tão comuns nesta época de Bolsonaros, Witzel e de outros atores menores. Mas não perdem a ocasião de depreciar Lula – que está no fundo da cadeia – com velhas e novas invectivas. É mais fácil bater para baixo do que para cima.

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